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Terceiro Setor e ESG: o mesmo lado de uma mesma moeda; entenda

Chega a ser ultrajante o pensamento de que o Terceiro Setor está distante dos princípios da ESG
Terceiro Setor e ESG: o mesmo lado de uma mesma moeda; entenda
Crédito: Reprodução Adobe Stock

Já faz alguns anos que a agenda da ESG – sigla inglesa que remete ao conceito de governança ambiental, social e corporativa – foi agrupada ao cotidiano de muitas empresas privadas e de gestões públicas espalhadas mundo afora. A adesão, aliás, vem sendo tão grande que é possível afirmar que se trata de uma tendência irreversível. Na prática, as organizações passam a tomar decisões levando em conta os potenciais efeitos sociais e ambientais. Ou seja, a consciência em torno do seu papel na sociedade é um fator determinante que muitas vezes subjuga o próprio interesse econômico.

Essa tomada de consciência ainda é recente no mundo corporativo, mas está longe de ser uma novidade na pauta das organizações da sociedade civil (OSCs). Aliás, fazemos justiça quando lembramos que o Terceiro Setor nasceu exatamente da necessidade de se promover um impulso social e ambiental. Mais do que isso, as primeiras entidades no Brasil já identificavam a incapacidade do Estado de promover as transformações que a própria Constituição Federal lhe imputava.

O Mapa das Organizações da Sociedade Civil, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em 2020, mostra que, das 815 mil OSCs em atividade no País naquele ano, 35,9% atuavam no desenvolvimento e na defesa de direitos e interesses, enquanto outros 29,6% realizavam atividades específicas mantidas por alguma entidade religiosa. Cultura e recreação (10,9%), assistência social (3,6%) e educação e pesquisa (3,6%) vêm na sequência dos setores predominantes. Todos esses segmentos são provas cabais do quanto as OSCs nascem e atuam para atender diretamente às necessidades da população.

Por isso, chega a ser ultrajante o pensamento de que o Terceiro Setor está distante dos princípios da ESG. Uma organização que tenha por objetivo garantir o acesso de uma comunidade à educação ou à saúde, por exemplo, já trabalha com o propósito de romper com a desigualdade que serve de nascedouro para a miséria, para a violência e para o trabalho infantil, dentre tantas outras mazelas.

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Mas isso não significa que não haja falhas na conexão com a ESG. Muitas entidades ainda carecem de uma estruturação e de acesso a recursos que alavanquem seus resultados. Apesar de bem intencionadas, algumas ainda operam num nível de informalidade que tende a distanciá-las de qualquer possibilidade de ampliar sua captação junto a grandes investidores, como o próprio poder público. Outras que estão formalizadas acabam pecando por um descompromisso com outras medidas importantes associadas à ESG.

Falta, portanto, conscientização e orientação especializada que torne todos os seus procedimentos internos melhor atrelados a uma agenda sustentável e devidamente adequada às necessidades sociais. Mas, via de regra, não se encontra nenhuma OSC resistente a essas mudanças, por mais complexas que sejam. Pelo contrário, há boa vontade e predisposição de realizar movimentos que alcancem reflexo ainda maior para a sociedade num todo.

Até porque as pessoas que participam ativamente do Terceiro Setor naturalmente já se nutrem de um papel que talvez ainda falte ao atores do setor privado e até mesmo dos órgãos públicos: diferentemente destes, ele já é movido pelas necessidades coletivas. Não há organização que consiga sobreviver estritamente com o intuito de atender a interesses pessoais e escusos. Essa é apenas mais uma prova inequívoca do quanto a governança mantém uma relação de intimidade com o funcionamento das OSCs.

Que isso sirva de exemplo para o restante da cadeia econômica e política no País.

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