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O transporte é o desafio do Vale do Aço?

Não há dúvidas de que a dificuldade de transporte pela BR-381 vem se agravando
O transporte é o desafio do Vale do Aço?
Usiminas em Ipartinga | Foto: Adobe Stock

Recentemente, o presidente da Regional Vale do Aço da Fiemg, Sr. João Batista Alves, comentou neste veículo sobre as dificuldades de transporte a que as indústrias do Vale do Aço estão submetidas. Como observador deste tema há mais de 15 anos, acredito que podemos acrescentar algumas de nossas reflexões.

Não há dúvidas de que a dificuldade de transporte pela 381 vem se agravando. Entretanto, este agravamento está longe de ser apenas em função do crescimento vegetativo da população local e de suas demandas. Na realidade, as siderúrgicas do Vale do Aço e de Monlevade e as minerações de ferrosos existentes da Serra da Piedade até Timóteo passaram todas as se servirem da 381 como base do transporte de matéria-prima das primeiras, e do transporte dos produtos das segundas.

Todo o minério de ferro, todo o calcário e outros minerais que até cerca de 2010 vinham por ferrovia para o Vale do Aço, agora vêm pela 381. Toda a escória que antes ia de trem para as regiões cimenteiras agora segue de caminhão. Este tráfego de caminhões graneleiros chega a responder por cerca de dois terços (2/3) do tráfego pesado em alguns segmentos da rodovia, estabelecendo uma clara situação de abuso de um bem público.

Na realidade, este abandono da ferrovia é um movimento generalizado no País e ocorre em função da concessão da malha para empresas essencialmente interessadas em transportar seus próprios produtos em direção aos portos. Neste cenário, a malha ferroviária em uso reduziu-se pela metade e os clientes que sobreviveram são apenas aqueles com grandes volumes de cargas exportáveis. Embora a Estrada de Ferro Vitória-Minas faça o mesmo trajeto BH-Vale do Aço, ninguém consegue fazer uso dela para transportar produto algum, e tudo tem de vir no caminhão.

O governo de Minas Gerais assistiu à renovação desta situação de concentração da ferrovia apenas nos produtos de interesse da Vale por mais 30 anos e não ousou fazer exigência alguma que significasse mais acesso ao trem. Aliás, mesmo agora, com recursos das outorgas disponíveis e em busca de projetos, o governo estadual não se mexe para trazer nenhuma operação ferroviária de volta e tudo o que se escuta é o coro pela duplicação, como se ferrovia não existisse.

E por fim, temos agora o coro cego da concorrência desleal do aço chinês. Não é o aço chinês que está barato, é o brasileiro que está nas alturas. O empresariado deveria estar pedindo é pela redução dos preços aviltantes praticados pelas siderúrgicas nacionais e não por taxação do chinês para manter tudo como está, com o brasileiro pagando a conta. Para se ter uma ideia, com o preço exorbitante do aço nacional, as siderúrgicas do Vale do Aço usam agora minério de ferro vindo de caminhão da fronteira com a Bolívia, uma viagem de mais de 2.000 km, e que termina, é claro, na 381.

Se apenas fôssemos capazes de tirar o que está desnecessariamente na 381, as condições para os usuários normais seriam imediatamente melhoradas, independentemente de duplicação.

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