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Trump recua em parte no tarifaço de 50%

Produtos como petróleo bruto, minério de ferro, celulose, suco de laranja, aviões e peças da Embraer está na lista de exclusões das taxas adicionais
Trump recua em parte no tarifaço de 50%
foto: Evelyn Hockstein /Reuters

O anúncio feito pelo presidente Donald Trump de retirar parte dos produtos brasileiros da lista do tarifaço de 50%, não é um gesto de aproximação diplomática. É, acima de tudo, uma demonstração objetiva de necessidade. Foi poupado da taxação aquilo que os Estados Unidos, pragmaticamente, ainda precisam importar do Brasil para manter sua própria engrenagem funcionando.

Foram retirados da lista produtos como petróleo bruto, minério de ferro, celulose, suco de laranja, aviões e peças da Embraer, além de alguns produtos plásticos. Todos os itens com peso significativo na pauta de exportações brasileiras, mas, mais importante do que isso, são insumos cruciais para setores industriais e produtivos americanos, cuja substituição — ao menos no curto prazo — é custosa, lenta ou simplesmente inviável.

A decisão, portanto, não é ideológica, tampouco simbólica, ela segue a lógica do custo-benefício. Produtos em que o Brasil ocupa posição de destaque na cadeia de suprimentos global foram poupados. O recado é direto: “precisamos de vocês, por enquanto.”

Já os produtos mantidos sob tarifação revelam outra face dessa política: o protecionismo seletivo, voltado a preservar nichos internos sensíveis, especialmente em ano eleitoral. Permanecem taxados, por exemplo, carne bovina, café e pescados, setores em que os EUA têm produção doméstica forte, lobby estruturado e onde o Brasil aparece como concorrente direto.

Aqui, o objetivo não é suprir, mas proteger. Não há dependência crítica. Há competição. E Trump, como bom estrategista político, entende que defender o produtor americano, mesmo à custa de tensões comerciais, rende votos em estados-chave como Texas, Iowa e Flórida.

Do ponto de vista brasileiro, o alívio parcial deve ser reconhecido: o impacto de uma taxação sobre petróleo, celulose ou minério seria brutal para o saldo da balança comercial, a arrecadação de royalties e o desempenho de empresas do porte de Suzano e Embraer, que registraram alta nas bolsas no dia do anúncio. Mas convém olhar além da superfície.

O episódio escancara a fragilidade da nossa pauta externa. Continuamos excessivamente dependentes da exportação de commodities e produtos primários, muitos deles insubstituíveis no mundo, mas facilmente substituíveis politicamente. Basta um decreto para inviabilizar relações de bilhões de dólares.
 Não há garantia de estabilidade comercial quando o relacionamento com grandes parceiros depende da conveniência política do momento. E Trump mostrou isso com clareza: quem serve aos interesses estratégicos dos EUA é mantido. Quem compete com eles, afastado.

Portanto, mais do que um episódio pontual, o tarifaço (mesmo que agora esvaziado em parte) deve servir de alerta. O Brasil precisa urgentemente de uma estratégia de inserção internacional que não seja apenas reativa. É necessário diversificar mercados, agregar valor à exportação e reduzir a dependência de decisões unilaterais de parceiros externos.

No xadrez do comércio internacional, não basta ter boas peças. É preciso ter jogo. E o Brasil ainda tem jogado com poucas alternativas.

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