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Os vários mundos

Os vários mundos
Crédito: Reprodução Freepik

Vivemos no mundo conforme nosso entendimento de como ele funciona. Desde o desprendimento do útero materno até a vida adulta passamos por metamorfoses. Por milhões de vezes descobrimos um novo ser. Somos inicialmente estranhos a nós mesmos. As revelações são desafiadoras desde o início.

Quando temos contato com nossos sentimentos, frustrações, perdas, mas também êxito para saciarmos nosso mundo interior passamos diuturnamente a viver de verdade. A cada momento um novo mundo se descortina de forma enigmática. Compreender a história desses sucederes é a própria magia da existência.

O mundo da fantasia nos remete à busca da maturidade. Planejar é bom, mas acreditar que as coisas acontecem por acaso é exceção. Para a construção de nós mesmos começamos por aprender os próprios limites corporais e da convivência, com suas leis familiares, culturais e valores sociais. A admiração de um recanto fresco deve fazer percurso no suor e sacrifício necessários para sua construção. As privações, as travessias perigosas, a paz, um lar duradouro têm no seu roteiro o forte senso de realidade, de humildade e da perseverança. A singularidade da narrativa pessoal de cada um é o que torna a vida e seus feitos encantadores.

O mundo das escolhas é a saga de nossa vida. Tudo o que construímos foi a partir de nossas opções próprias, ou negligenciamos para sermos conduzidos. Fazer a retrospectiva dá-nos certeza de que devemos tomar as rédeas das decisões que nos envolvem. Meditar e refletir sobre os fatos ocorridos é contribuir para aperfeiçoar a prudência. As situações tendem a se repetir. Por isso, o ciclo da vida nos dá uma nova chance a cada amanhecer. Optar por novos caminhos é acertadamente garantir um novo destino. Dotar-se da convicção da flexibilidade como um dos princípios vai garantir que uma nova rota pode ser traçada com o novo aprendizado.

O mundo dos dons é reconhecer os talentos recebidos. Saber que podemos usá-los e os aperfeiçoar requer motivação continuada. Ter oportunidade de demonstrar os dons é arrebatador. Porque só assim a criatura consegue se manter conectada com seus propósitos, permitindo que concretize seus feitos profícuos. É um caminho que conduz à realização pessoal, pois os dons compartilhados representam amor e solidariedade.

O mundo da abundância é garantido pela gratidão. É reconhecer que o que importa para ser feliz é estar satisfeito com a existência do belo e do bom. E poder usufruir em algum grau destes momentos, tal como campinas verdejantes, uma flor, águas repousantes, a palavra bem-dita, a lealdade inabalável, ser digno de merecimento, amizade sincera, ser acolhido com carinho, ou sentir a eternidade nos pequenos momentos daquele abraço ou companhia.

Ao mundo do inefável pertencem as expressões do corpo. Por mais que se tente explicá-las com palavras bem articuladas elas vão ficar aquém de seus significados. Os gestos, os olhares, os trejeitos, o caminhar e a aproximação representam fragmentos que a subjetividade de quem percebe eventualmente consegue cristalizar as intenções verdadeiras. As dimensões que esses símbolos têm para cada um demonstra o quanto as barreiras dos nossos muros podem ser ultrapassadas com maestria, cedendo em muitas ocasiões como passe de mágica.

Já o mundo das pulsões é bem mais eletrizante, porque coloca em xeque as identidades, pois não cabe no binarismo dos sexos, deixando revelar os espectros dos gêneros. Tal como na arte as pinturas que se vê são surreais, não sendo seu polimorfismo com frequência exposto em molduras de telas, pois ali elas não se contêm. Empoderados, os sujeitos enfrentam com sofrimento as dissidências no campo discursivo para viver a própria vida da forma coerente com suas necessidades emocionais, psíquicas e corporais.

Ver-se com autenticidade diante do espelho é o ato mais intimista para dar a si mesmo reconhecimento e aceitação das próprias vulnerabilidades. É ser protagonista da própria jornada. Nas sábias palavras da canção “É preciso saber viver”, de Erasmo Carlos/Roberto Carlos pode estar o alerta que precisamos para viver bem neste mundo: “Numa flor que tem espinhos/Você pode se arranhar”. Iluminai-nos a sapiência!

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