As tecnologias agtech e foodtech e o futuro da comida

MANOEL MÁRIO DE SOUZA BARROS*
Nossas cadeias produtivas e os nossos hábitos alimentares sofrerão com as novas revoluções do setor alimentício mundial. Hoje, cientistas e engenheiros de alimentos trabalham no “computador da Comida”. No “Mit open agriculture iniciative”, as melhores universidades do mundo estão em busca de um novo modelo tecnológico da produção. A agricultura existe há cerca de 10 mil anos e desde então tem sido fundamental para o desenvolvimento dos povos.
Em todo o universo, a partir do século XX, o setor produtivo levou a uma profunda e extraordinária transformação tecnológica de ponta que foi dos novos locais de cultivo, com o aumento considerável da produtividade das sementes e numa melhora significativa no controle de pragas invasoras com defensivos agrícolas de última geração e na mecanização do plantio e também na melhoria da qualidade e manuseio dos solos. O resultado disso foi um aumento expressivo na oferta global de alimentos, o que possibilitou um crescimento em escala jamais vista da população mundial.
Se nos idos de 1900 o planeta abrigava algo em torno de 1,5 bilhão de pessoas, hoje somos mais de 7 bilhões. Até 2.100, a expectativa é que este número ultrapasse a marca de 11 bilhões de habitantes. Os números não deixam dúvidas de que será preciso um novo salto de produtividade nas lavouras para alimentar a população crescente. O problema, no entanto, não poderá se dar a qualquer custo. Diante de consumidores cada vez mais exigentes e comprometidos com questões sociais e ambientais, fica a pergunta: Como resolver esta equação? Nos últimos anos, inúmeros experimentos relacionados à produção de alimentos têm sido realizados.
Coisas que antes pareciam saídas de filmes de ficção científica hoje são realidade em várias partes do universo. São câmaras de cultivo indoor totalmente controladas por computadores de última geração, prédios inteiros dedicados à produção agrícola, carnes desenvolvidas em laboratórios e vegetais mais saborosos e com teores mais elevados de nutrientes e vitaminas. Invenções que, mesmo restritas e testadas de forma experimental, já demonstram grande potencial. Para os especialistas, as novas tecnologias vieram para ficar. Segundo eles, será preciso deixar o preconceito de lado e rever a forma como produzimos a nossa comida, uma revolução silenciosa que deve impactar toda a cadeia produtiva de alimentos.
Modismos e avanços que se mostrarem viáveis do ponto de vista econômico, porém, dificilmente substituirão de maneira integral os modelos tradicionais de produção, já que há demanda crescente por alimentos. Prestar atenção a eles pode, no entanto, a meu ver, ser educativo para os produtores de commodities. Na era dos millennials- como são conhecidos os jovens nascidos após 1980, que viveram a maior parte de suas vida adulta já no atual milênio- discussões em torno da origem dos alimentos serão cada vez mais cruciais, até mesmo na conquista ( ou perda) de mercados.
Muito mais do que qualidade, as novas gerações desejam produtos de qualidade, cultivados com respeito ao meio ambiente e de forma socialmente correta. Mais do que saber o que estão comendo, exigem transparência para conhecer a procedência e a forma de producão de cada ingrediente. Exigente, esse jovem consumidor tem pressionado as indústrias que, por sua vez, repassam a pressão aos seus fornecedores, que são obrigados a se adequar à nova realidade, muitas vezes até revendo seus processos produtivos. Quando falamos em jovens, não estamos falando em meia dúzia de moleques mimados. Nos Estados Unidos, por exemplo, os millennials já são maioria.
De acordo com um estudo recente do Pew Research Center, esse grupo é composto atualmente por quase 70 milhões de americanos e a sua influência no mercado de alimentos só tende a aumentar daqui por diante. Mais perto da produção e lideradas por alguns desses millennials, uma série de startups focadas em novas tecnologias de produção de alimentos, ou simplesmente “foodtech”, tem sido criadas em todo o mundo.
Essas empresas surgem geralmente das necessidades desses jovens- em muitos casos diferentes de seus pais, que formavam a geração X. Um exemplo recente é o movimento. “eat local”, que fomenta o consumo de alimentos produzidos localmente, colaborando para o desenvolvimento da economia da região e ainda reduzindo a pegada de carbono desses produtos.
O desejo dos consumidores por esse tipo de alimento tem feito com que cada vez mais as áreas urbanas, até então ociosas, sejam aproveitadas para o cultivo de frutas, verduras e legumes. As cidades, assim, vão se transformando em inusitadas fronteiras agrícolas, ou seja, em qualquer espaço disponível pode ser visto como um centro produtivo. Como as lavouras hoje, fato já comum nos Estados Unidos, estão no topo de grandes galpões e edifícios.
*Presidente da Comissão do Direito do Agronegócio da OAB/MG; diretor do Agronegócio da Câmara Internacional de Negócios; advogado tributarista do Agronegócio
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