Opinião

Ausência da demanda agregada

Ausência da demanda agregada
Crédito: Antonio Cruz/Agência Brasil

José Eloy dos Santos Cardoso *

Paulo Haddad, um dos mais competentes e importantes economistas brasileiros, produziu e publicou na imprensa de Belo Horizonte interessante artigo sob o título “A insuficiência da demanda agregada”. Ele tem razão, porque o Brasil está repleto de trabalhadores ociosos, máquinas e equipamentos produtivos na indústria ou comércio parados ou com menos utilização do que devia, etc. O próprio governo está com uma infinidade de obras paradas por falta de dinheiro ou planejamento errado ou que foram iniciadas apenas para usar um recurso público que estava disponível e por aí vai. Junto com esses problemas ainda temos uma insuficiente demanda de produtos brasileiros exportáveis. Tudo isso são componentes da chamada oferta agregada, composta das famílias, governos, empresas e os compradores do exterior.

Embora as estatísticas mostrem um desemprego de mão de obra com carteira assinada de 12 milhões de pessoas disponíveis para trabalhar, se somarmos aqueles subempregados e os chamados desalentados que deixaram de procurar emprego, a soma total de brasileiros que estão sem produzir ou produzindo muito menos do que poderiam, atingiria facilmente 25 milhões de brasileiros nessa situação. Algumas pessoas, para sobreviver, montaram barracas para vender quinquilharias contrabandeadas nas calçadas das médias ou grandes cidades brasileiras, carrocinhas para vender sanduíches e cachorro-quente, produtos produzidos nas residências como coxinhas, pastéis, etc. Isso os livra da fome, mas essas produções não conseguem produzir um produto interno bruto (PIB) maior.

Minas Gerais não ficou só espiando o que acontecia no País e produziu através do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais o “Diagnóstico da Economia Mineira”, publicado em 1968, que era indicações para um programa de governo que, quando realmente aplicado nos anos 70, fez com que a economia mineira crescesse e superasse até duas vezes mais o próprio milagre econômico brasileiro. O fato é que milagres não existem em economia. Só Deus é capaz de produzir milagres. O que é possível é partir para uma ação desenvolvimentista que faça a economia crescer e diminuir as taxas de desemprego de fatores de produção, ou como tecnicamente dizemos, o produto potencial. Produzindo menos do que o produto potencial, teremos desemprego de fatores de produção que não é só mão de obra, que é importante, mas é somente um dos fatores produtivos.

Mas o que fazer nos tempos atuais quando alguns países diminuíram suas taxas de crescimento ou suas demandas do exterior? O Brasil possui uma infinidade de obras mal planejadas e começadas até para gastar alguns recursos disponíveis nos orçamentos. Se dermos continuidade e aproveitamento naquelas obras começadas e inacabadas poderemos ajudar a melhorar a situação brasileira sem ter que iniciar nenhuma outra obra pública. Em primeiro lugar, devemos procurar os desperdícios de obras públicas que foram iniciadas sem maiores preocupações com os recursos necessários e estão paradas, muitas delas até com recursos perdidos pela ação do tempo. É preciso se ter um melhor e maior estudo caso a caso para, depois fazer o que for preciso fazer para os prosseguimentos indispensáveis. É claro que o próprio governo está sem dinheiro, mas o que não pode faltar é vontade e a perseverança com o objetivo de crescimento e desenvolvimento que abundaram no governo do inesquecível presidente Juscelino Kubitschek.

* Economista, professor titular de macroeconomia da PUC-Minas e jornalista

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