Opinião

Avanço do endividamento familiar

Avanço do endividamento familiar
Crédito: Marcos Santos / Usp Imagens

O relatório de endividamento das famílias do mês de agosto revelou que houve crescimento de 1% no total de famílias endividadas no Brasil, saindo de 78% para 79%. Em um intervalo de um mês, novo recorde. Os dados foram divulgados pela Confederação Nacional do Comércio Bens, Serviços e Turismo (CNC). Segundo o mesmo relatório, o percentual de inadimplentes também evoluiu no mesmo período, de 29% para 29,6%.

Por mais que pareça uma avaliação boba, esses fatos acima descritos devem ser avaliados com lupa. Se levarmos em consideração que, em um ano, os endividados cresceram em quase 8% e os inadimplentes em quase 4%, podemos concluir que algo na economia não está bem. E, cabe dizer, que esse algo atinge de forma mais patente a família média. No caso em questão, a inflação.

Outro fator que nos aponta para esse caminho é a percepção de que um agente influenciador para esse comportamento está diretamente ligado ao gasto com consumo diário e não com grandes aquisições. Elementos como despesas do dia a dia estão gerando necessidade nas pessoas de tomarem créditos pessoais, o que por sua vez pode gerar um efeito “bola de neve”. Afinal, se não é possível pagar a conta de hoje, ao assumir uma dívida, o cenário que se desenha no mês seguinte é de não ter recursos para pagar as contas correntes, tampouco a nova parcela com juros. A probabilidade é de se endividar ainda mais.

Esse endividamento é muito cruel com as famílias, principalmente em períodos de combate à inflação. E como explicação temos, como no Brasil utilizamos a elevação de taxa básica de juros (Selic) como principal ferramenta de combate à inflação e como essa mesma taxa é usada como parâmetro para definição de taxas de juros de novos empréstimos, adquirir um novo financiamento fica ainda mais caro, apertando os recursos já escassos das famílias.

Mas e o futuro?

A bem da verdade, o futuro sempre é uma pergunta complexa. Mas vamos a algumas observações que podem trazer um pouco de luz a tudo isso. A primeira delas é: com as famílias mais endividadas, o consumo tende a reduzir. A redução do consumo, por sua vez, pode causar a redução dos preços e potencialmente a redução da inflação. Contudo, a redução do consumo gera menor necessidade de produção, o que poderá caminhar para um aumento na dispensa de profissionais, ou seja, desemprego, o que provoca uma redução do ciclo virtuoso da economia. A segunda diz respeito à redução da inflação relacionada ao aumento da taxa de juros. Com esse aumento, as empresas investem menos em unidades produtivas, o que desacelera o ciclo de crescimento. Em contrapartida, o aumento da taxa de juros transforma o país em uma boa opção para investimento em ativos financeiros, o que atrai capital estrangeiro, provocando uma apreciação do câmbio. Algo que pode ser benéfico ao consumidor. Por fim, temos a apreciação do câmbio, que é boa para o consumidor, mas pode ser ruim para a indústria que perde competitividade fora. Assim, a opção passa a ser a busca, mais fortemente, pelo mercado interno.   É importante lembrar que essa busca pelo mercado interno pode permitir encontrar novos modelos de operação e maior eficiência à medida que entende o funcionamento do público e como seu produto é visto.

Como podem ver, falar sobre o endividamento das famílias é bem mais do que falar sobre o endividamento das famílias. Com isso, vamos mais uma vez apontar nossos barcos para o horizonte e buscar os melhores ventos para que o futuro seja melhor, com menos inflação, crédito mais barato, maior eficiência das empresas e menor endividamento.

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