Belô, síntese do Brasil
“Belo Horizonte, única e talvez derradeira poesia da República” (João do Rio, citado por Paulo Rónai em seu Dicionário Universal de Citações)
Belo Horizonte, como já deixei explicado nos comentários anteriores, é vista pelos que a conhecem em profundidade, em suas realizações e imperfeições humanas, nos instantes de glória e nas horas de frustração, com perene feição reluzente, entre o prateado e dourado, num envoltório áurico positivo. Vá lá: o amor costuma turvar um pouco a visão dos fatos. Mas, se a condição de vida da cidade não é de todo a ideal, não deixa de ser, no mínimo, razoável, comparativamente com a de outros lugares importantes deste conturbado mundo de Deus.
Quando despertou em mim o grande e incondicional afeto que sinto por Belo Horizonte, cidade que me acolheu como filho por iniciativa do respeitado e diligente vereador José Domingos, aprendi valiosas lições. Uma delas: fiquei sabendo que o amor é um sentimento poliglota, exprimindo-se em diversos idiomas e dialetos, e que no catálogo das vedações morais e éticas não há lugar para condenações à “poligamia geográfica”. O que sinto por Belô é forte e vigoroso, como fogo que arde sem se ver, na lírica imagem camoneana. Mas não é algo que possa subtrair ou empobrecer – e aí reside a beleza da relação – o que sinto pela minha terra natal ou por recantos outros onde tenha pendurado meigas lembranças de um passado que armazena referências primordiais de minha preparação para o jogo da vida.
Amo BH em sua vocação para a ação humanística e social, de marcante influência em meu destino espiritual e profissional. Amo Belô em seu apreço à liberdade e em seu grave senso de respeito democrático, que dela fizeram centro de excelência do pensamento político nacional, mesmo que a configuração dos atos e fatos da atualidade não ostente o viço de outros tempos. Amo Belo Horizonte na manifestação soberba de sua cultura e arte, erudita e popular, no seu colorido, no rompante de voz, na expressão corporal, carregados de mineiridade e brasilidade. Amo Belo Horizonte na fraternidade da fala e gestos de seu povo que atingem de forma concreta e decisiva os recantos carentes que o esforço oficial não consegue, não quer ou não pode alcançar com a eficiência desejável. Amo Belo Horizonte, pelo que ela representa como cidade síntese da cultura e do humanismo de Minas e do Brasil. Amo Belô como mulher bela que é. Cheia de graça, “espanta melancolia e consola mágoas de amor”, na definição tomada por empréstimo ao Livro dos Cantares.
É assim, desse modo, que me amarro, afetivamente, à Capital dos 125 anos. Amor amadurecido, encharcado de compreensão, onde entram todas as cambiantes e entonações dos laços e entrelaçamentos humanos feitos para durar. Mais até: para permanecer. Amor feito de doces e irreveláveis segredos, mistérios e fascínios, como bem se ajusta às ligações que se pretendem eternas.
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