Bom senso

Cesar Vanucci*
“Diz-se comumente que a partilha mais justa que a natureza nos tenha feito de seus dons é a do bom-senso, pois não há ninguém que não se contente com a parte que lhe toca”. (Michel de Montaigne, filosofo francês)
À luz do bom senso, o Executivo e o Legislativo adotaram atitude correta ao definir que não seja concedido, temporariamente, reajuste salarial aos servidores públicos. As dramáticas circunstâncias de todos conhecidas validam a decisão.
Faz-se imperioso reconhecer, entretanto, que não pegará bem a hipótese de a medida restritiva acertada pelos dois poderes vir a ser aplicada, por qualquer (falta de) razão, a algumas e não a todas as categorias dos quadros funcionais. Se isso, porventura, ocorrer estaremos diante daquilo que, em bom dialeto caboclo, se denomina “o fim da picada”…
À luz do bom senso, não há nada que possa justificar sejam as dotações orçamentárias do importantíssimo Ministério da Defesa superiores às dotações acumuladas dos, igualmente importantíssimos, Ministérios da Educação e da Saúde. Coisa assim não faz o mais leve sentido.
À luz do bom senso, não tem mais como o Poder Público continuar “empurrando com a barriga”, como se diz, a solução de um tremendo problema administrativo e jurídico com décadas de duração.
Diz respeito aos milhares de agentes públicos, de diferentes funções e todas as esferas, que recebem, privilegiadamente, remuneração acima do teto constitucional. Urge ser encontrada logo uma saída honrosa para essa história de desrespeito à lei e flagrante injustiça social. As reiteradas promessas de estudos visando à regularização da anômala situação nunca transpuseram os arroubos retóricos contemplados sob holofotes midiáticos. Os encarregados de disciplinar as políticas salariais no serviço público passam, à sociedade, a penosa impressão de não estarem nem aí para o candente assunto. Tá danado!
Loja de chocolates ou “lavanderia”? Infalível pergunta aflora quando se toma conhecimento dos repetitivos valores, de procedência suspeita, depositados na conta de uma empresa pertencente ao ex-deputado estadual e atual senador da República Flavio Bolsonaro. A investigação conduzida pelo Ministério Público revela, com abundância de detalhes, que Fabrício Queiroz, o tal da “rachadinha”, também acusado de pertencer às temidas milícias cariocas, praticou inumeráveis operações ilícitas mode que favorecer o parlamentar, do qual foi e, ao que parece, continua sendo prestimoso assessor. Nenhum analista dos fatos políticos precisará recorrer à “bola de cristal” para adivinhar que o processo em curso, envolvendo Flavio Bolsonaro, ainda vai dar bastante “pano pra manga”…
O noticiário nosso de cada dia informa que a Saúde Pública andou ordenando à rede hospitalar privada que notifique, as autoridades, regularmente, dos casos de internamento pela Covid-19. A indagação que inevitavelmente sai boca a fora é esta: – “Uai! Mas isso não vem sendo feito, naturalmente, desde o começo da pandemia?” Cada uma!
O governo Bolsonaro – imperioso admitir – vem fazendo muito por merecer as críticas que lhe são dedicadas, com constância, nos noticiosos da TV Globo. Mas é justo anotar que, pelo menos na divulgação de recente evento público, a cobertura jornalística da emissora “errou na mão”. Laborou em equívoco. Sucedeu quando, de modo enfático, divulgou-se que numa cerimônia transcorrida em Brasília, com foco na questão da pandemia, ninguém, dentre as personalidades presentes, se deu ao cuidado de registrar com palavras de pesar as perdas de vidas valiosas ocasionadas pelo flagelo. Ao contrário do que se afirmou, todavia, no ato solene aludido, aconteceu, sim, cercada de reverência, manifestação dedicada à memória das vítimas, inclusive com o tradicional e tocante “minuto de silêncio”.
Vez do leitor. O jornalista Orlando de Almeida comenta o artigo “100 mil”. “Caro mestre e amigo, mais um brilhante texto, desta vez sobre o apavorante número de vítimas da Covid, que ultrapassa 114 mil. Opinião que resume bem a indignação de todos que desde o primeiro registro de contaminação, em março, acompanham estarrecidos o agravamento da pandemia por culpa do pandemônio em que o desgoverno transformou este país.”
*Jornalista ([email protected])
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