Opinião

Brasil, questão de confiança!

Brasil, questão de confiança!
Crédito: REUTERS/Paulo Whitaker

Recente pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha para medir a confiança da população nos poderes da República e outras importantes instituições nacionais, registra grave advertência às lideranças do País, nos setores público e privado. Os números captados não chegam a surpreender, pois se repetem há anos, talvez décadas, mostrando, com força, o baixo o nível de credibilidade destas instituições junto à opinião pública.

Sem exceção, com percentuais elevados, Executivo, Legislativo e Judiciário apresentam crescente distanciamento e descrença da população. Na mesma direção, estão outras instituições relevantes para o Brasil e para os brasileiros em razão dos poderes nos quais estão investidas e de sua relevância para definir o futuro do País. Neste rol encontram-se o Ministério Público, Imprensa, empresas e até as Forças Armadas. A pesquisa foi realizada em 190 municípios, nos quais foram ouvidos 3.667 pessoas, representativas dos mais de 200 milhões de brasileiros.

Do universo ouvido, cerca de 61% não confiam nos partidos políticos, 50% desconfiam da instituição “Presidência da República”, 49% do Congresso Nacional, 32% da Imprensa, 31% no Judiciário, 30% do Ministério Público, e 29% dizem não confiar nas empresas. As Forças Armadas registram o melhor índice de confiança (76%), mas, ainda assim, menor que o registrado na pesquisa anterior, realizada dois anos atrás. Na verdade, todos os resultados pioraram em relação a 2019.

Neste cenário, como deve posicionar-se a sociedade brasileira? Haverá, certamente, aqueles que irão celebrar – uma minoria – que torcem pelo “quanto pior, melhor”, movidos pelo sectarismo deletério, por interesses individuais e de grupos. Mas também haverá quem lamentará e se entristecerá com os percentuais preocupantes – felizmente estes são a maioria e representam aqueles que têm compromisso com o Brasil, com a construção de um país melhor, forte em sua economia e mais justo na distribuição dos frutos do crescimento. É a velha e sempre verdadeira história do copo meio vazio ou meio cheio…

Como o radicalismo só constrói o caos, a balbúrdia e o insucesso, preferimos ver os resultados da pesquisa do Datafolha como uma advertência e um alerta à elite dirigente do País, nos setores público e privado. Sábia, o que a sociedade brasileira diz a esta elite é que a descrença nos poderes da República, no poder público e mesmo em segmentos da iniciativa privada é consequência de tudo o que deveríamos ter feito nas últimas décadas e deixamos de fazer. A confiança foi erodida pela inação e falta de compromisso com as pessoas e com o País. A sociedade e a pesquisa também dizem, com propriedade, que a hora de fazer é agora, que o mundo está mudando cada vez mais aceleradamente e que não há mais tempo a perder.

Precisamos de um pacto entre as lideranças de todos os setores para resgatar a confiança e começar a construir uma nova sociedade, um novo país. Não existe uma fórmula mágica, nem uma receita pronta que possamos copiar e aplicar ao Brasil. Somos um país diverso, grande em território e em população, com nossas idiossincrasias, nossa história, usos e costumes. Mas uma coisa é certa: precisamos romper com o passado e – a partir de uma visão compartilhada, um desejo comum de futuro, com determinação, abnegação, paz e, sobretudo, solidariedade – iniciar uma grande transformação.

Precisamos de um ambiente de confiança e de ações efetivas em prol da população e do País. É preciso fazer as reformas estruturais que temos adiado por décadas, condenando o País à perda continuada de competitividade da nossa economia, das nossas empresas e dos nossos cidadãos frente ao resto do mundo. Outra pesquisa recente dá conta de que apesar de estarmos entre as doze maiores economias do mundo, estamos estagnados na posição 57 do ranking mundial da competitividade.

Também precisamos da reforma administrativa, que se encontra neste momento em morosa tramitação no Congresso Nacional. A pesquisa e a sociedade apontam que não é viável um país com os escandalosos privilégios do setor público e a ineficiente máquina estatal, que consomem cerca de 80% do seu orçamento para pagar servidores e pensionistas, destinando muito pouco, quase nada, para investimentos em infraestrutura, educação e inovação tecnológica.

Ao responder à pesquisa, a sociedade brasileira diz, também, que é preciso fazer a reforma tributária para reverter o cenário ao qual estamos subjugados, acorrentados. É um cenário caracterizado por uma das maiores cargas tributárias do mundo e de complexidade absurda, a ponto de exigir das nossas empresas bilhões de reais anuais e milhares de horas de trabalho apenas para cumprir a burocracia tributária.

Enfim, o que a sociedade efetivamente almeja é que a elite dirigente do País, nos setores público e privado, assuma a missão que lhe compete de bem gerir, com zelo e consequência, os recursos públicos destinados a sustentar programas estruturantes para a população, em especial os seus segmentos mais carentes, nos campos da saúde, educação, segurança pública e transporte público.

Não se pode mais postergar a tarefa de aumentar a eficiência do País, educar, criar oportunidades de trabalho com remuneração justa e melhorar a qualidade de vida da população. É preciso ser fraterno no pensar e efetivo no agir para vencer a inaceitável disparidade social que temos. É, em essência, questão ética, de justiça, princípios e valores.

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