Capital Natural: estratégia empresarial para a perenidade

Coordenar a inteligência humana, os esforços e a natureza para que as atividades empresariais continuem sendo lucrativas, mas, também, sustentáveis, ainda é um desafio. Num mundo de recursos finitos, esgotá-los é a pior estratégia empresarial.
Falar a respeito do impacto causado pelo ser humano no meio ambiente é abrir um vigoroso debate sobre a riqueza, a sua circulação e, principalmente, como este tema afeta aquele.
Se o consenso na CoP 21 era em prol de um desenvolvimento sustentável, mesmo que mais lento do que a demanda do planeta, o comportamento adotado na CoP 24, realizada na Polônia, no final de 2018, foi marcado por um pensamento pouco ambicioso, com poucos compromissos assumidos e pode-se dizer, até mesmo, um retrocesso em relação à conferência anterior. Se, em Paris, assumiu-se o compromisso de se limitar o aquecimento global, na Polônia, o grande desafio era como os países estipulariam o cumprimento de seus próprios objetivos climáticos. O “Livro de Regras” e as diretrizes ficaram muito aquém do esperado e os principais opositores foram Arábia Saudita, Estados Unidos, Rússia e Kuwait.
Ao invés de acolherem o Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), com recomendações de que a temperatura não subisse mais que 1,5%, no “Livro de Regras” constou-se, apenas, um convite aos países para que façam uso das informações contidas no relatório. Também, não avançaram no debate para aumentar as respectivas metas de redução de emissões fixadas voluntariamente na CoP 21. Contentaram-se com um esforço para elevar os esforços em 2020. Nada foi dito sobre a redução da emissão de gazes com efeito estufa até 2030, ao contrário de 2015, quando o tema foi tratado expressamente.
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Em 2017, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a saída do país do Acordo de Paris. Em novembro de 2019, os EUA notificaram a ONU, dando início ao procedimento para a retirada efetiva do país do referido tratado, que deve ocorrer, oficialmente, em novembro de 2020.
O Brasil, também, retrocedeu em seu protagonismo até então demonstrado ao anunciar a sua desistência em sediar a CoP do ano de 2019. Em setembro deste mesmo ano, em Nova York, líderes de mais de 60 países se reuniram para a Cúpula de Ação Climática. Liderados pelo secretário-geral da ONU, o encontro restringiu o debate para países que apresentassem medidas concretas para o combate às mudanças climáticas, com foco na neutralidade de carbono até 2050. Apesar de Brasil, Rússia e China terem participado sem os seus respectivos Chefes de Estado, apenas o representante do primeiro não discursou.
A revista canadense “Corporate Knights” compila e analisa, pelo 15° ano, a sustentabilidade das empresas mundiais. No ano de 2019, foram mais de 7,5 mil empresas com receita anual superior a US$ 1 bilhão. As variáveis são: […] energia; emissões de carbonos; consumo de água; resíduos sólidos; capacidade de inovação; pagamentos de impostos; a relação entre o salário médio do trabalhador e o do CEO; planos de previdência corporativos; segurança do trabalho; percentual de mulheres na gestão; e o chamado bônus por desempenho” (identifica, igualmente, se a remuneração dos executivos encontra-se, de alguma forma, atrelada ao desempenho de sustentabilidade empresarial) (BARBOSA, 2016, p. 10). A denominada “pegada ecológica” da empresa consiste na adoção ou não das práticas acima descritas.
De acordo com a Forbes, a partir de 2018, o Global 100 passou a usar como indicador de desempenho a denominada “receita limpa”, que consiste na medição da porcentagem de receita que uma empresa gera por meio de produtos sustentáveis. Mas, somente em 2019, esse critério passou a ter peso no ranking, representando 50% da pontuação das empresas. Ainda de acordo com a Forbes, com os cálculos da “Corporate Knights”, a satisfação dos acionistas é maior com empresas que priorizam a sustentabilidade. Entre 2005 e 2018, as 100 empresas do ranking obtiveram um retorno de investimento de 127,35%, enquanto a média geral foi de 118,27%, de acordo com o índice MSCI All Country World Index.
O tema é polêmico e interessa pela sua contemporaneidade. Se não é novo, a sua manipulação, ainda, traz insegurança na área contábil e empresarial. Surpreendemo-nos, muitas vezes, ao lembrar que nem todos os recursos são renováveis, mas, ainda assim, exploramos estes além da sua capacidade regenerativa. A percepção do que é (ou não) renovável passa por duas variáveis dessa complexa equação: espaço e tempo. A novidade não está em, apenas, interagir com o meio ambiente, mas fazê-lo, compreendendo-o como um Capital Natural, com funções ambientais, que deve ser gerido assim como o Capital Financeiro o é. Caracterizá-lo como tangível, mensurável, finito, obriga o empresário a contabilizá-lo, amortizando-o se necessário.
O que o planeta precisa é de uma urgente meta de “descarbonização”. Espera-se do cidadão adesão a este pensamento, para que seja seletivo na escolha da empresa que tenha um compromisso com o ecossistema, que apresente a sua “pegada ecológica” de forma consistente e que seja proativa no enfrentamento do problema, buscando soluções para simplificação de sua produção e redução do impacto da sua atividade na natureza. Não se trata mais de uma opção e já ultrapassamos o tempo limítrofe da virada comportamental. Ou a reversão é feita agora, ou as próximas gerações não terão o que reverter.
*Ref.: BARBOSA, Vanessa. O que fazem as 30 empresas mais sustentáveis do mundo. Disponível em:< http://exame.abril.com.br/negocios/noticias/conheca-30-empresasmodelo-em-sustentabilidade-no-mundo>. Acesso em: 5 de set. de 2015.
**Sócio da Sociedade Manucci Advogados. Conselheiro de Administração independente certificado pelo IBGC e pela FDC. Doutor em Direito Privado pela PUC-MG.
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