Café sem Filtro

O novo Brasil do café especial

País sempre foi visto como polo de cafés tradicionais, de sensorial doce, confortável e previsível

Por décadas, o Brasil foi reconhecido como o País dos cafés tradicionais, aqueles de sensorial doce, confortável e previsível. Chocolate, caramelo, nozes. Era assim que o mundo nos enxergava, e, em parte, era assim que nos apresentávamos. Mas essa imagem já não dá conta do momento atual. O País vive uma transformação profunda, impulsionada por tecnologia, curiosidade, estudo e, principalmente, pela vontade dos produtores de elevar o patamar do café nacional.

Juarez Gomes, especialista em análise sensorial, acompanha esse movimento de perto. Para ele, a revolução não tem um único responsável, mas um conjunto de mudanças que aconteceram ao mesmo tempo. “É mais tecnologia, mais aprendizado e produtores dispostos a inovar. O Brasil deixou de ser só chocolate e caramelo. Hoje temos cafés que ocupam toda a roda de aromas e sabores”, afirma.

Essa mudança fica ainda mais evidente quando se fala de fermentações. O País, antes associado a perfis mais clássicos, agora produz cafés que lembram uva tinta, champanhe e frutas vermelhas, alcançando camadas sensoriais antes impensáveis por aqui. A ampliação de métodos de pós-colheita, o controle microbiológico e as novas práticas de manejo abriram espaço para que cada produtor colocasse sua identidade no grão, uma digital única, intransferível.

Ainda assim, Juarez Gomes faz questão de reforçar que inovação não significa copiar modelos estrangeiros. “O DNA brasileiro é nosso. A gente não vai replicar o que o Quênia faz. Podemos até ter alguma similaridade, mas não é sobre imitar, é sobre mostrar qualidade e deixar de ser só o café do blend. Isso aqui é o futuro do Brasil”, pontua. Essa consciência de identidade tem guiado o País a apresentar ao mundo seu verdadeiro potencial.

E o mercado internacional já percebeu essa virada. Torrefações renomadas, como Five Elephant, The Barn e Tim Wendelboe, procuram cafés brasileiros com perfis sensoriais ousados, de origem única e personalidade marcante. Fazendas conhecidas mundialmente por inovação, como a DaTerra, reforçam ainda mais o protagonismo brasileiro ao ganhar destaque dentro e fora do País, mostrando novas possibilidades de sabor, textura e complexidade.

Essa evolução não é apenas técnica, é cultural. Representa uma mudança de mentalidade. Produtores deixam de se ver apenas como fornecedores de volume e passam a buscar excelência, diferenciação e propósito. Consumidores, por sua vez, ganham acesso a xícaras mais ricas, surpreendentes e diversas, capazes de contar histórias de território, clima, cuidado e experimentação.

O resultado é um Brasil mais maduro, mais curioso e mais consciente do seu papel no cenário global. Um País que entende que competir não significa copiar, mas revelar o que só ele pode oferecer. “Tudo isso mostra um novo Brasil no cenário de café especial”, conclui Juarez Gomes.

Se antes o mundo via o Brasil como o responsável pela doçura dos blends, agora enxerga um produtor capaz de entregar complexidade, originalidade e força sensorial. Um país que se reinventa sem perder sua essência e que, finalmente, serve ao mundo o café que sempre teve potencial para produzir.

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