O novo sabor do café: tendências que moldam o consumo dos especiais
O café especial deixou de ser apenas uma bebida para se tornar um movimento, um reflexo de novas formas de viver, consumir e se relacionar com o que é autêntico. Para entender como esse mercado vem se transformando, conversamos com Hugo Rocco, fundador do Moka Clube, uma das principais referências em torrefação e curadoria de cafés no Brasil.
Para ele, o crescimento do consumo de cafés especiais faz parte de algo maior: uma mudança de mentalidade. As pessoas estão buscando produtos com mais autenticidade, qualidade e propósito. “O consumo de café especial é parte de um movimento das pessoas que querem viver melhor, buscar coisa boa, com mais verdade”, explica Hugo Rocco. Segundo ele, há uma linha do tempo clara ao se observar o comportamento do consumidor: o vinho teve seu auge até 2010; depois veio a fase da cerveja artesanal e, agora, o café assume o protagonismo. É a bebida desta década, o elo entre prazer e consciência.
Esse amadurecimento reflete um público mais curioso e exigente, interessado em entender de torra, variedade e origem. E, ao mesmo tempo, está ligado ao bem-estar. Depois da pandemia, o café ganhou outro papel no dia a dia: o de ritual saudável , um prazer que não pesa. É a pausa entre reuniões, o cheiro que desperta, o gole que reconecta.
Mas há algo novo acontecendo: um movimento liderado pela geração mais jovem. São consumidores que não buscam apenas sabor, mas significado. Querem saber quem está por trás da marca, de onde vem o café e qual é a história de cada lote. “Eles não compram café, compram coerência”, resume Hugo Rocco. Essa geração quer consumir o que faz sentido, e o café especial virou uma forma de expressão, um espelho de valores, escolhas e intenções.
No Moka Clube, essa visão se traduz na curadoria. Hugo Rocco explica que a qualidade sempre foi o ponto de partida, mas nunca o suficiente. O que realmente importa é a pessoa por trás do lote: o cuidado, o olhar social, o respeito ao meio ambiente e a paixão pelo que faz. “O café especial não é moda, é vida”, afirma. Por isso, a seleção busca equilíbrio entre o novo e o clássico, cafés experimentais que desafiam o paladar e origens tradicionais que mantêm viva a identidade do sabor. O que o Moka busca, acima de tudo, é história para contar e que o consumidor sinta essa história ao tomar o primeiro gole.
Quando o assunto é futuro, Hugo Rocco acredita que três pilares definirão o próximo capítulo do café especial: qualidade, sustentabilidade e personalização. Esses pontos, segundo ele, deixarão de ser diferenciais para se tornar o básico. O público passará a entender mais sobre sabor, região e processo, e saberá escolher o que faz sentido para o seu próprio gosto. Mais do que nunca, cada xícara carregará a identidade de quem a toma.
No fim, o café mantém seu papel mais bonito: o de aproximar pessoas, contar histórias e revelar intenções. Seja puro, com açúcar ou até com um toque de pistache, o importante é a intenção, o gesto, o significado por trás de cada gole. Porque, no fim das contas, o café continua sendo isso: um ponto de encontro entre prazer, propósito e identidade.
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