O universo por trás de um bom espresso

Entre todas as formas de tomar café, poucas têm o prestígio, a intensidade e o charme do espresso. Com apenas 25 a 30 ml, ele entrega potência aromática, sabor encorpado e uma crema dourada que é quase uma assinatura. Mas essa bebida tão icônica é também uma das mais complexas — tanto na preparação quanto na história.
O espresso moderno nasceu na Itália do pós-guerra, quando o barista Achille Gaggia desenvolveu, em 1947, uma máquina que utilizava um pistão para extrair o café sob alta pressão. O resultado foi uma bebida mais densa, intensa e com a crema que hoje é símbolo de qualidade. Desde então, o espresso se tornou uma paixão nacional dos italianos e uma referência mundial.
E sim, escreve-se espresso com “s”. A palavra vem do italiano caffè espresso, que significa “café feito sob pressão”. A confusão com “expresso” — com “x” — surgiu por associação com a ideia de rapidez, mas no mundo do café, a forma original com “s” é a mais adequada e adotada internacionalmente.
Embora pareça simples, o espresso possui diversas variações que transformam a experiência sensorial. O espresso tradicional é a versão clássica, com equilíbrio entre corpo, acidez e doçura. Já o ristretto é mais curto e concentrado, com sabores densos e menos amargor. O lungo, por outro lado, é uma extração mais longa, resultando em uma bebida mais diluída. O doppio é o espresso duplo, mais intenso e volumoso, enquanto o macchiato adiciona uma pequena mancha de leite vaporizado ao café. Há ainda o corretto, que leva um toque de bebida alcoólica, comum nas manhãs frias italianas.
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Outra curiosidade é que, proporcionalmente, o espresso tem mais cafeína do que o café coado. Embora menor em volume, concentra entre 60 e 80 mg de cafeína em apenas 30 ml, enquanto um coado (150 ml) tem cerca de 90 a 100 mg. Ou seja, por mililitro, o espresso é mais potente. E mais uma dica: café “forte” não significa torra escura. Um espresso bem tirado com grãos de torra média pode ser doce, equilibrado e frutado.
Apesar do tamanho reduzido, o espresso é uma das formas mais exigentes de preparar café. A moagem precisa ser fina, a pressão da máquina deve estar calibrada, a água na temperatura adequada (entre 90 e 96 °C), e o tempo de extração costuma ficar entre 25 e 30 segundos. É aconselhável que não ultrapasse esse tempo, para evitar sabores indesejados como amargor ou adstringência — mas cada café pode pedir pequenas variações.
Mais do que uma bebida rápida, o espresso é um ritual técnico e sensorial. Um símbolo da cultura do café que, mesmo pequeno, deixa uma marca profunda em quem prova. Na dúvida, experimente um ristretto. Ou um doppio. E se alguém questionar, você já pode responder com propriedade: é com “s” — e com alma.
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