Caminhos sustentáveis

Algas podem ser solução para o esgoto?

Abordagem inovadora ganha cada vez mais destaque e nasceu na Índia

Em meio à crescente crise ambiental, a busca por soluções sustentáveis se torna cada vez mais urgente. Uma abordagem inovadora que ganha cada vez mais destaque nasceu na Índia pelas mãos da dra. Akanksha Agarwal. A pesquisadora tem liderado estudos que mostram como microalgas, como scenedesmus obliquus, combinadas com macroalgas, como ulva lactuca, podem revolucionar a forma como tratamos águas residuais.

Quem conhece um pouco do mundo das algas deve ter se assustado ao ver o nome da ulva lactuca como solução, uma vez que ela é frequentemente relacionada a problemas de grandes dimensões. Na França, por exemplo, essa alga frequentemente causa um fenômeno chamado de maré-verde, onde toneladas de algas se acumulam nas praias, liberando gases tóxicos como sulfeto de hidrogênio. O resultado é devastador: as praias precisam ser fechadas devido aos riscos de impacto negativo na saúde pública e isso causa enormes prejuízos econômicos ao turismo e à pesca.

Mas o sistema desenvolvido pela dra. Agarwal utiliza a fotossíntese das algas para remover poluentes, absorvendo nutrientes como carbono, nitrogênio e fósforo de águas residuais e, além disso, transforma esses elementos em biomassa útil. Todo o processo é realizado em biorreatores fotobiológicos e ocorre em poucas horas, permitindo a purificação rápida e eficiente de efluentes. Os baixos custos operacionais são outro atrativo interessante e são estimados em cerca de R$ 0,05 por litro.

Na Índia, a empresa Agromorph, liderada pela pesquisadora, tem trabalhado no escalonamento da tecnologia e tem implementado a solução em diversas indústrias, desde a farmacêutica até a alimentícia. A cada nova instalação, potencializa-se o impacto ambiental positivo que está se tornando exponencial.

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Os pesquisadores começam a perceber que os blooms algais, verdadeiros tapetes verdes que cobrem a superfície da água, devido à proliferação desequilibrada dessas algas, poderiam fortalecer a economia circular. A ulva lactuca recicla nutrientes como nitrogênio e fósforo e pode ser aproveitada em plantações reduzindo a dependência de fertilizantes sintéticos. Além disso, ela pode ser fracionada em múltiplas matérias-primas, tais como polissacarídeos bioativos para cosméticos e farmacêuticos, proteínas e fibras para alimentos funcionais, biocombustíveis como bioetanol e biogás, biofertilizante natural, condicionador de solo, estimulante de crescimento vegetal. E tudo isso enquanto purifica a água e sequestra carbono.

Por tudo isso, as soluções propostas podem ser consideradas um convite para que pessoas, empresas e governos olhem para as soluções de base na natureza como uma oportunidade de resolver os problemas que nossa ganância gerou. O tratamento de esgoto com algas é um exemplo claro de como a combinação de natureza e tecnologia pode ser utilizada para enfrentar os desafios ambientais.

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