Avião de pedal: uma ‘antiguidade inovadora’ que pode contribuir para a sustentabilidade da aviação
Voar pedalando. Essa ideia parece louca para a maioria de nós e as pessoas se surpreendem ao saber que há aviões que permitem essa façanha. Sim, você leu direitinho, não errei a concordância de número, são aviões, no plural mesmo.
Recentemente, a Universidade de Osaka apresentou ao mundo o Tsurugi, um avião-bicicleta. Ele não tem motor, não tem bateria e nenhum outro meio de propulsão além da força que as pernas do piloto impõem ao pedal que está diretamente ligado à hélice. Pode parecer uma ideia superinovadora, mas na realidade é bastante antiga.
Em 1485, Leonardo da Vinci idealizou um mecanismo de voo totalmente movido por força humana. Em 1961, o Reino Unido ofereceu ao mundo o Sumpac, que registrou o primeiro voo com decolagem e pouso exclusivamente realizados com força humana. Em 1984, a Alemanha registrou o primeiro voo com passageiro movido exclusivamente por força humana. Em 1988, uma equipe do Massachusetts Institute of Technology (MIT) criou o Daedalus 88, a aeronave movida por força humana que realizou o voo humano mais longo já registrado, entre as ilhas gregas de Creta e Santorini, uma distância equivalente a 115 km com duração de 3 horas e 54 minutos.
Provavelmente você deve estar se perguntando o que isso tem a ver com sustentabilidade. E a resposta é tudo. Primeiro trata-se de um grande exemplo de biomimética. Quando Da Vinci desenhou o ornitóptero, sua aeronave sustentada por força humana, sua inspiração era o movimento de pássaros, morcegos e insetos sobre os quais ele fez centenas de registros. Esses experimentos se configuram como exemplos interessantes de como a engenharia criativa e a força humana podem se unir para fazer o ser humano voar sem consumo de combustível ou emissão de CO2.
Por fim, esse tipo de experimento vai muito além dos aviões-bicicletas propriamente ditos, o que nos interessa são os ganhos que isso pode gerar em termos da aviação sustentável. O desenvolvimento desses modelos exige a utilização de materiais super leves e de aerodinâmica extremamente apurada, ganhos que podem ser levados para a indústria aeronáutica contribuindo significativamente para a redução da pegada de carbono do setor que hoje representa cerca de 3% da emissão global de carbono e é visto como um setor de difícil descarbonização. Então, os voos movidos pela força humana fortalecem a imagem de um futuro onde os aviões serão carbono-neutros.
Além disso, tira o transporte ativo do chão, já que atualmente se resume a patinetes, skates, bicicletas, patins, e o projeta no céu. O avião movido pela força humana leva o transporte ativo para um outro patamar. Assim, é possível que o caminho para um futuro mais verde na aviação seja construído a partir da força de nossas pernas.
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