Caminhos sustentáveis

Bambu: um dos símbolos da sustentabilidade pode não ser tão sustentável

Sustentabilidade depende de vários fatores, e a natureza do produto é apenas um deles

Um dos símbolos da sustentabilidade pode não ser tão sustentável. “Bambu” é um termo que representa mais de 1.400 espécies de plantas da família Poaceae. Algumas de suas espécies desenvolvem caules fortes e seu crescimento acelerado chama atenção, colocando-o como um potencial substituto das madeiras virgens. Por ser uma planta rústica, ele atura bem a maioria dos climas, exige poucos cuidados, independe de replantio e dispensa produtos químicos. Essas características tornaram o bambu parte integrante da vida dos seres humanos há pelo menos 7 mil anos.

Em tempos de crise climática, suas qualidades são ainda mais atrativas. Ele pode produzir até 30% mais oxigênio e sequestrar até 400% mais CO2 da atmosfera do que as árvores. Além disso, ele previne a erosão do solo.

Sua versatilidade e incrível resistência também são notáveis. De modo geral, o bambu é pelo menos 2x mais forte que a madeira. Apesar disso, o bambu é incrivelmente leve, o que torna o transporte fácil. Segundo a Unesco, 1 bilhão de pessoas no mundo vivem em casas de bambu. E ele também é utilizado em estradas na Índia, em pontes na China, em andaimes em Hong Kong e em móveis na Tailândia. Seu broto está presente na gastronomia e em remédios para doenças renais e antibactericidas. Já suas raízes e folhas têm sido utilizadas para tratar DSTs, doenças nos ossos e câncer. O vinagre, produzido a partir do caule, contém 400 compostos químicos aplicáveis em cosméticos, inseticidas, desodorantes, alimentos e agricultura. A lista de aplicações é quase interminável, passando ainda pela produção de papel, carvão, fraldas reutilizáveis, utensílios, colares, pulseiras, brincos, louças e um tecido forte e durável, que resiste a odores, é absorvente e de secagem rápida.

Todas essas características, unidas à sua natureza renovável, tornaram o bambu um símbolo da sustentabilidade. No entanto, é preciso tomar cuidado com essa narrativa. A sustentabilidade depende de vários fatores, e a natureza do produto é apenas um deles. É preciso analisar também sua origem, método de produção, transporte e descarte.

Quando florestas cedem espaço a plantações de bambu, ele passa a competir por luz solar, água, nutrientes e solo com outras plantas, impactando a biodiversidade. No transporte, por ser leve, é comum ver cargas de bambu viajando centenas ou até milhares de quilômetros, e para isso é queimado combustível fóssil. Na produção, etapas, principalmente de tecido de bambu, consomem uma quantidade considerável de produtos tóxicos, água e energia.
Por isso, é preciso entender todo o ciclo de vida do produto para saber se de fato é sustentável ou se piora a situação que prometia melhorar.

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