O Brasil e a incapacidade de olhar para o futuro de forma sustentável
Recentemente, tive a oportunidade de participar de um workshop organizado pelo governo federal em conjunto com a agência da ONU para o Desenvolvimento (UNDP), que abordava o estudo de futuros. O momento, idealizado por ninguém menos do que Chico Gaetani, me fez perceber duas coisas muito importantes: como usamos pouco os mecanismos disponíveis para construir um projeto de país e como a discussão sobre sustentabilidade precisa abandonar o âmbito conceitual e se amalgamar ao debate do país que queremos.
Não é novidade para ninguém que vivemos num contexto de crescente polarização política e social, e que a saída desse contexto é difícil. Pior ainda é quando essa radicalização atinge debates públicos sobre temáticas como a sustentabilidade, que são essenciais para a própria existência humana.
Muito se fala também na necessidade de se buscar um projeto coletivo de país, que promova a despolarização e um debate político mais rico e embasado em evidências. Isso vale para qualquer política pública, mas, para a sustentabilidade, talvez seja indispensável. É que essa pode ser a única forma de se criar rapidamente os mecanismos necessários para se enfrentar as crises climáticas que se tornam cada vez mais danosas.
O aumento da temperatura global e as mudanças climáticas são apenas um pequeno indicador de um sistema muito mais complexo e intrincado, para o qual as soluções só serão efetivas se implementadas em rede e de maneira colaborativa. A boa notícia é que o pensamento sobre futuros pode ser o ponto de transformação desse sistema.
É difícil imaginar que alguém não queira um futuro com menos pobreza, melhores sistemas públicos, uma sociedade mais justa e solidária. Claro que algumas nuances dessa visão se pintarão de cores diferentes. Talvez, para alguns, o elemento A ou B seja mais relevante.
Isso cria um ponto de chegada compartilhado que as teorias de gestão de conflitos chamam de estrutura de ligação, que é a condição basilar para que acordos de ganho mútuo possam ser alcançados.
O estudo de futuros ainda tem outra contribuição interessante. Um método que eles chamam de “backcasting”. Esse método nada mais é do que se partir de uma visão de futuro para identificar estratégias e táticas necessárias para alcançá-la. Essa dinâmica pode contribuir significativamente para que as divergências ideológicas percam a primazia, em prol de uma visão coletiva comum construída já a partir do consenso.
O Brasil tem todas as condições para ser um exemplo em práticas de sustentabilidade, dados os seus vastos recursos naturais e diversidade biológica. No entanto, essa transformação exige que o governo e a sociedade civil se unam em prol de um futuro mais equilibrado e o elo dessa corrente pode ser forjado a partir do estudo de futuros.
Que olhemos para frente, já que o agora não inspira confiança.
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