Caminhos sustentáveis

Carbon blindness: os riscos de se ignorar as questões ambientais e climáticas

Fenômeno representa uma desconexão entre as ações humanas e sua real contribuição para o equilíbrio ambiental

A clássica história de Chapeuzinho Vermelho, de Charles Perrault e os irmãos Grimm, retrata uma jovem que ignora os sinais de perigo e acaba sendo engolida pelo mal que ignora. Não é que ela não perceba os sinais. Ela os vê com clareza: que orelhas, olhos, mãos, nariz e boca grandes você tem. Muitos sinais foram percebidos, mas nenhuma ação concreta foi adotada diante dos sinais captados. E a inação diante deles acaba por gerar o resultado indesejado: a pobre menina é devorada pelo lobo mau.

A história ficcional descrita tem se tornado cada vez mais real no nosso dia a dia. A miopia da Chapeuzinho Vermelho se assemelha à de muitos líderes políticos ou organizacionais diante da questão ambiental e climática. No mundo das pessoas adultas o fenômeno recebe um nome muito menos interessante: carbon blindness

carbon blindness, ou cegueira em relação às emissões de carbono, representa uma desconexão entre as ações humanas e sua real contribuição para o equilíbrio ambiental. 

Assim como Chapeuzinho ignorou os sinais do lobo, países, empresas e organizações veem as discussões sobre sustentabilidade apenas como um simples problema de carbono (quando reconhecem pelo menos isso), sem enxergar a complexidade e gravidade do problema maior. 

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Sinais como a toxicidade ambiental, a perda de biodiversidade, a acidificação dos oceanos, a eutrofização de córregos, rios e lagos, a poluição do ar, a escassez de recursos entre muitos outros são sinais que aparecem todos os dias e são sumariamente ignorados. O problema é que essa cegueira pode levar a humanidade ao mesmo fim vivenciado por Chapeuzinho Vermelho, com a diferença que não teremos caçador para nos retirar do desequilíbrio sistêmico que geramos no ventre da mãe natureza. 

As Nações Unidas têm reforçado a urgência de se olhar para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) a partir de uma perspectiva sistêmica e não como um menu de opções em que se escolhe aquelas que mais lhe interessam. A tentativa é fazer com que pessoas e organizações entendam que o desequilíbrio do sistema é um elemento complexo que vai muito além da questão do carbono e que influencia e é influenciada por outras questões ambientais e também por questões sociais e econômicas vitais. 

Muitas vezes olhamos para as histórias infantis, e para suas lições morais, com certo desdém, consideramos que são coisas de criança. Mas a verdade é que em diversos casos, como o da cegueira do carbono, elas se tornam mais do que simples narrativas; elas se tornam guias de como devemos nos comportar em um mundo cada vez mais complexo. 

Assim como Chapeuzinho precisava aprender a reagir melhor aos sinais que percebia, assim também nossas organizações públicas e privadas precisam desenvolver uma visão crítica sobre suas operações e impactos ambientais para muito além da pegada de carbono.

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