Como fica a questão ambiental pós-COP29?
No último dia da COP29, a presidência tirou da cartola um acordo final em que países ricos se dispunham a pagar US$ 300 bilhões anuais até 2035 para ações climáticas e que a meta coletiva de US$ 1,3 trilhão deveria ser um compromisso de todos. Isso significa que os países ricos estão dispostos a pagar pouco mais de 23% dos custos necessários para limpar a bagunça. Mas somente os EUA são responsáveis por cerca de 24% de todos os gases de Efeito Estufa lançados na atmosfera; a União Europeia por mais 15%; e a China por mais 14%. Por isso, é um escárnio com o multilateralismo a proposta e, para piorar, existem grandes chances de a promessa sequer ser cumprida.
O “acordo” foi tão imposto que o próprio secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que esperava um resultado mais ambicioso e ainda reforçou a importância de se pôr um fim à era dos combustíveis fósseis. O ex-vice-presidente americano Al Gore já havia criticado a influência das empresas de petróleo na COP28 e, dessa vez, reiterou a preocupação com a excessiva influência dos interesses dos combustíveis fósseis.
Mas é sobre outra parte da fala do americano que eu gostaria de refletir: “Se conseguirmos encontrar dentro de nós mesmos, em todos os países, a capacidade de nos unir e fazer escolhas inteligentes, podemos resolver isso.” Talvez tenhamos sido ingênuos demais de achar que conseguiríamos colocar todos os interesses na mesa e resolver os problemas na urgência que possuem de maneira dialogada. Está passando da hora de olharmos para essa situação de um ponto de vista de estratégia nacional, de avaliar riscos e oportunidades que podemos tornar realidade sem ajuda externa.
Para sermos um país 100% baseado em energia renovável, precisamos aprender como armazenar energia sem uso de bateria, já que os danos gerados por elas e seus custos são bastante relevantes. Dois meios mais baratos e eficientes são o armazenamento por bombeamento hidráulico e, por gravidade, que diversos países já estão implementando. A lógica é elevar a água ou blocos pesados quando há excesso de energia na rede e deixá-los voltar à posição inicial quando houver necessidade de energia. Assim, a energia elétrica é transformada em energia potencial que pode ser novamente transformada em elétrica.
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Podemos ser o primeiro país do mundo cujo agronegócio é carbono neutro. Segundo dados da consultoria McKinsey, o nosso agro já é o mais sustentável do mundo. Diversas práticas, como o plantio direto, uso de fertilizantes de liberação lenta e o controle biológico, ajudam a reduzir o impacto ambiental. Mas para nos tornarmos carbono neutro, é preciso reduzir o uso de defensivos químicos, investir na restauração de ecossistemas, ampliar o uso de biocombustíveis e melhorar o armazenamento de carbono no solo.
Chegou a hora de pararmos de depositar as nossas fichas em negociações internacionais que andam a passos de tartaruga e se mostram cada vez mais incapazes de lidar com as necessidades urgentes com que lidamos.
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