COP30: princípios da Interoperabilidade de Taxonomias
No sexto dia da COP30, foram lançados os Princípios para Interoperabilidade de Taxonomias, um nome pomposo para algo importantíssimo e, ao mesmo tempo, complexo de se alcançar. Vamos começar do início.
Taxonomias são listas oficiais que definem as atividades consideradas ambientalmente sustentáveis em um determinado país. Ao estabelecer uma taxonomia, os países buscam, em geral, responder aos principais desafios ambientais e sociais que enfrentam, levando em conta seus compromissos, objetivos e planos prioritários. A definição de uma taxonomia permite uma melhor coordenação dos investimentos que contribuirão para a transformação da economia rumo a um futuro mais resiliente, desenvolvido, sustentável e inclusivo. Em outras palavras, a taxonomia acelera o processo de desenvolvimento ao alinhar, de forma complementar, os esforços do poder público, do setor privado e da sociedade civil. O documento inicial de proposição da taxonomia brasileira pode ser acessado neste link: Taxonomia Sustentável Brasileira.
Agora imagine o que acontece quando cada país define sua própria taxonomia com critérios, metodologias e prioridades diferentes. O resultado é um emaranhado de classificações que não se comunicam entre si, criando um grande obstáculo à fluidez do capital internacional e à construção de um mercado financeiro verde global. Sem um padrão comum, o que é considerado sustentável no Brasil pode não ser reconhecido como tal na Europa, nos Estados Unidos ou na Ásia.
Isso gera incerteza regulatória, fazendo com que investidores internacionais hesitem em aplicar recursos por não saberem se os critérios locais atendem às exigências de seus próprios mercados. Além disso, empresas e projetos acabam enfrentando custos elevados para se adequar a múltiplas taxonomias, o que pode desestimular iniciativas sustentáveis (especialmente em países em desenvolvimento). A fragmentação também acarreta o risco de exclusão, pois projetos relevantes e alinhados com os desafios locais podem ser ignorados simplesmente por não se encaixarem em padrões impostos por outras regiões.
É nesse contexto que os Princípios para Interoperabilidade de Taxonomias ganham importância estratégica. Eles não pretendem criar uma taxonomia única global, mas sim estabelecer pontes entre diferentes sistemas, permitindo o reconhecimento mútuo e o diálogo entre critérios distintos. Dessa forma, contribuem para a construção de um ambiente em que investidores possam confiar que um projeto classificado como sustentável em um país atende a critérios compatíveis em outro.
A interoperabilidade, portanto, é essencial para destravar trilhões de dólares em investimentos sustentáveis, aumentar a transparência dos mercados financeiros verdes e acelerar a transição climática global. Esse lançamento foi, sem dúvida, um golaço do Brasil, mas é preciso reconhecer que ainda há um longo caminho até que possamos sentir os resultados práticos dessa ação.
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