Dia 10 da COP30: O fogo e o comprometimento da esperança
A programação do décimo dia da COP30 foi pensada para colocar as pessoas no centro do debate. Por isso, previa espaço de fala para mulheres e meninas afrodescendentes, lideranças de coletivos, jovens, povos indígenas e outros representantes da sociedade civil.
As negociações, no entanto, continuavam emperradas, principalmente em relação aos combustíveis fósseis, com a diplomacia brasileira tentando abrir alternativas não compulsórias para avançar em temas relevantes. Mas, por volta das 14h, um incêndio na Zona Azul exigiu a evacuação total da área.
Se a situação já era complicada, o incêndio a dificultou ainda mais. Embora o embaixador Corrêa do Lago tenha declarado publicamente que o episódio “afeta as decisões, mas não atrapalha”, na prática ficou evidente que os efeitos foram sim negativos.
Ainda não houve pronunciamento oficial sobre as causas do incêndio. E, embora algo assim possa ocorrer em qualquer lugar, o fato de ter acontecido no Brasil, em meio ao contexto de questionamentos já existentes, certamente deixará marcas importantes. Principalmente porque a UNFCCC havia alertado previamente o governo brasileiro sobre problemas de infraestrutura e segurança.
O mais curioso é que, não só os problemas informados não foram resolvidos, como no dia do incêndio eles pareciam ainda mais graves. Com menos pessoas na Zona Azul, seria natural esperar que o sistema de ar-condicionado funcionasse melhor e a temperatura fosse mais confortável. No entanto, o que se viu foi uma sensação de calor ainda mais intensa que nos dias anteriores. A DMDL, empresa responsável pela área e que contribuiu decisivamente para arrastar o nome do Brasil para a lama, assim como a Organização dos Estados Ibero-Americanos, que a contratou para o serviço, mantiveram-se omissas diante das falhas e críticas.
Independentemente da causa que venha a ser identificada para o incêndio, esse comportamento omisso e irresponsável tem grandes chances de deixar na COP das Florestas a mesma imagem que as queimadas deixaram na Amazônia no último ano. O fogo pode ter consumido não apenas parte da COP30, mas também a imagem do Brasil, a ambição dos países, a possibilidade de um bom acordo para o mundo e, sobretudo, o interesse coletivo, mais uma vez subjugado a interesses mesquinhos de corporações inescrupulosas.
Termina melancolicamente o décimo dia de COP30.
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