Energia barata, tarifas que dão choque
A Agência Internacional de Energia Renovável publicou, semana passada, o seu mais recente relatório, que revelou que, em 2024, foram adicionados 582 gigawatts de capacidade renovável na produção de energia no mundo. A China sozinha foi responsável por 61,2% desse crescimento, um número impressionante.
Outro aspecto importante trazido é que os investimentos em energia renovável continuam significativamente mais baratos do que seus correlatos em combustíveis fósseis. Segundo o relatório, considerando todas as energias renováveis atualmente em operação, os custos evitados com combustíveis fósseis chegaram a US$ 467 bilhões, em 2024. Nesse quesito, o Brasil foi o segundo país que mais se beneficiou, com um total estimado de USD$ 28,3 bilhões.
Quando se olha individualmente para os diversos tipos de energia renovável, a supremacia da solar impressiona: 77,6% (452 GW) do crescimento da geração de energia renovável se deve a essa tecnologia. Novamente, o destaque vai para China, mas a aceleração americana nesse setor também chama a atenção. O Brasil aparece em quarto lugar, atrás da Índia. E, quando olhamos para a redução de custos nos projetos, o Brasil tem o maior destaque: entre 2010 e 2024, o custo total de instalação caiu 74% por aqui.
Apesar desse crescimento expressivo, a água continua sendo a principal fonte de energia renovável no mundo, com 47,8% do total de energia renovável gerada. Seu crescimento, entretanto, foi muito mais modesto (9,3 GW) e bastante concentrado na China (96%). A hidrelétrica é especialmente importante para a estabilidade da rede e suprimento de base, e o Brasil apresenta a menor média ponderada de custo de instalação do mundo. Talvez contribua para isso o fato de não investirmos no armazenamento bombeado, que é utilizado como uma espécie de bateria de água e acaba aumentando os custos do sistema.
Ainda que de maneira tímida, os biocombustíveis vêm avançando. Obtiveram um crescimento de 5.1 GW em 2024, para os quais China e França contribuíram com 2,3 GW. Atenção especial tem sido dada à modalidade de transformação do lixo em energia e na captura e armazenamento de carbono, ambas tendências asiáticas. No Brasil, o que chama atenção é a queda do fator de capacidade dessa fonte de energia, ou seja, a proporção entre o que foi gerado em relação ao que poderia ter sido gerado na potência máxima caiu, elevando substancialmente o custo total instalado para o dobro do que era há dois anos.
Apesar de estarmos bem no relatório da Irena, um levantamento da Agência Internacional de Energia (IEA) mostra que, ao cruzarmos os dados de custo da energia com renda das famílias, o Brasil assume a segunda pior colocação no mundo, com um custo relativo equivalente a 6,8% da renda média da população, levando o país à situação de produção barata, com tarifas caras. E a razão é simples: Quase metade do valor da conta de luz se deve a subsídios, encargos setoriais e impostos.
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