Caminhos sustentáveis

Ironias da COP30

A COP30 parece determinada a levar os paradoxos a um novo patamar
Ironias da COP30
Pessoas na Blue Zone (Zona Azul) na COP30 | Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Quando o mundo se reúne para discutir algo tão complexo quanto o futuro do planeta, é natural que surjam incoerências. Mas a COP30 parece determinada a levar os paradoxos a um novo patamar.

A primeira ironia: muito se questionou a capacidade do governo do Pará de realizar as mudanças que Belém precisava para sediar um evento da magnitude da COP. Ao mesmo tempo, enalteceu-se a escolha de uma empresa paulista, tida como eficiente e inovadora, para montar a Zona Azul. Porém, o Governo Paraense aproveitou a COP30 para deixar um legado para as pessoas (parques lineares, melhoria do sistema de mobilidade e do saneamento). Já a DMDL, sediada em Barueri (SP), protagonizou um vexame internacional: não concluiu a montagem a tempo e entregou uma Zona Azul Insalubre e sem solução à vista. O mais inacreditável? O suposto corpo técnico qualificado errou os cálculos do sistema de climatização. Sim, na COP da luta contra o aquecimento global, o calor venceu.

A segunda ironia é a conferência que se autodenomina a “COP da Adaptação” revelar-se incapaz de se adaptar ao próprio imprevisto. Diante do erro grotesco do parceiro privado, o evento que deveria simbolizar resiliência e capacidade de resposta sucumbiu, como se a adaptação fosse apenas um conceito para discursos, não uma prática para emergências reais.

A terceira ironia ocorreu durante o lançamento do “Mutirão contra o Calor Extremo”. Enquanto líderes mundiais discursavam sobre refrigeração sustentável, eficiência energética e resiliência urbana, os pavilhões da COP viravam estufas gigantes, provocando desmaios entre negociadores. A conferência que se propõe a enfrentar o calor extremo não conseguiu proteger nem seus próprios convidados.

A quarta ironia aconteceu em plena sessão sobre justiça climática. O Reino Unido, país historicamente responsável por emissões massivas de carbono, declarou que os países em desenvolvimento não precisam de apoio adicional. A justificativa? As estruturas existentes da ONU já seriam suficientes. A ironia é dupla: além de negar apoio em um espaço dedicado à cooperação, o Reino Unido ignora o princípio da responsabilidade comum, porém diferenciada.

A quinta ironia diz respeito à invasão ocorrida na noite da terça-feira, quando manifestantes invadiram a Blue Zone, área restrita da COP, fazendo cobranças ao governo federal. A COP do povo que defende justiça climática e inclusão social precisou se proteger da participação popular.

Por fim, a COP30 está sendo marcada por chuvas intensas e sensação térmica sufocante, um sinal claro para os líderes mundiais de que o clima e a natureza não esperam nem se moldam aos desejos e humanos. A ironia, nesse caso, reside no fato de que a conferência sobre mudanças climáticas foi engolida pelo clima.

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