Manguezais: uma riqueza esquecida
Os manguezais são ecossistemas costeiros que desempenham um papel crucial na biodiversidade e na sustentabilidade ambiental. O Brasil abriga cerca de 10% da área total de manguezais do mundo e é o segundo país que mais possui manguezais, atrás apenas da Indonésia. Embora estejam presentes em 123 países, eles representam menos de 0,4% de toda a área florestal global.
Esses ecossistemas são ricos em biodiversidade e sustentam comunidades complexas, onde milhares de outras espécies interagem, e oferecem um valioso habitat de berçário e uma fonte de alimento para uma série de animais, insetos, moluscos e crustáceos. Para se ter uma ideia, estudos indicam que até 75% das espécies de peixes comerciais dependem dos manguezais em alguma fase de suas vidas. Além disso, os manguezais atuam como filtros naturais, purificando a água e protegendo recifes de corais e outros habitats marinhos da sedimentação.
Do ponto de vista humano, os manguezais são essenciais para garantir a segurança alimentar de muitas comunidades costeiras e também podem ser importantes armas contra as mudanças climáticas.
No aspecto da mitigação, o mangue tem capacidade de sequestrar e armazenar até 3 vezes mais carbono do que as florestas tropicais, e sua restauração pode reduzir substancialmente as emissões de gases de efeito estufa. Além disso, um estudo publicado na revista “Nature Communication” revelou que os mangues da Amazônia possuem estoques de carbono totais da ordem de 468,3 toneladas por hectare, o que significa uma capacidade aproximada de 3 a 20 vezes maior do que a dos biomas terrestres. Se destruídos, os manguezais se tornam grandes fontes de emissão de CO2. Estima-se que, embora os manguezais ocupem menos de 1% da superfície terrestre, seu desmatamento pode representar até 10% das emissões globais de desmatamento.
No aspecto da adaptação, os manguezais atuam como defesa costeira natural contra marés de tempestade, tsunamis, elevação do nível do mar e erosão, protegendo populações costeiras. Segundo a Unesco, uma faixa de 500 metros de manguezais pode reduzir a altura das ondas em até 99%. Em um mundo onde os eventos climáticos extremos se tornam cada vez mais frequentes e intensos, essa função de proteção é vital.
O problema é que a exploração desmedida e a conversão deles para usos urbanos geraram a perda global de 50% dos manguezais nas últimas décadas. Se concordamos que a proteção desses habitats é indispensável para garantir um futuro sustentável e resiliente frente às mudanças climáticas, precisamos concluir que já passou da hora de considerarmos os manguezais nos nossos esforços frente às mudanças climáticas.
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