Caminhos sustentáveis

Mineração: amiga ou inimiga do futuro?

Atualmente, a mineração sofre com uma imagem péssima junto à sociedade

Nesta semana, trabalhava com a equipe da Agência Nacional de Mineração quando uma das profissionais lançou a pergunta: O que fazer para melhorar a péssima imagem que a mineração tem no Brasil?

Essa pergunta não me saiu da cabeça. A atual imagem da mineração é, de fato, péssima. A escavação gera feridas assustadoras no terreno e os recentes desastres de Brumadinho e Mariana contribuem para tornar essa imagem ainda pior. Afinal, as cenas de destruição e perda humana ecoam por gerações, alimentando um medo genuíno sobre os impactos da atividade de extração de recursos naturais. Mas não para por aí. Moradores de cidades mineradoras sofrem com uma série de outros problemas: desmatamento, erosão do solo, emissão de gases de efeito estufa, poluição das águas e a poluição do ar. Quem vive em cidades mineradoras provavelmente já se deparou com nuvens de poeira em deslocamento. Vento bate nas pilhas de minério e de rejeito e leva isso para dentro da casa das pessoas. Não importa o quanto se limpe ou se pinte, a casa está sempre suja, as pessoas passam a ter muito mais problemas respiratórios e há uma queda na diminuição da expectativa de vida das pessoas.

As consequências podem ser graves, afetando a biodiversidade, a saúde humana e o equilíbrio dos ecossistemas. E quando olhamos só para elas, corremos o risco de criarmos uma visão excessivamente parcial da realidade, o famoso jogar fora o bebê junto com a água do banho.
Para termos uma visão equilibrada, precisamos reconhecer que a mineração é essencial para o progresso tecnológico e a qualidade de vida que temos hoje. Sem ela, voltaríamos a andar a cavalo (sem ferradura e sem freio), não existiria energia elétrica, TV, ar-condicionado, computador, celular, filtro de água e grande parte dos remédios. Além disso, a capacidade de geração de alimento seria bem menor. Você abriria mão de tudo isso? Acredito que a maioria das pessoas não. Então o que nos resta?

Resta-nos reduzir os custos econômicos, sociais e ambientais e manter os benefícios. É preciso pensar em saídas (tecnicamente elas já existem) para reduzir a toxicidade dos rejeitos, retirando metais pesados e utilizando os milhões de toneladas de rejeito inerte restantes para melhorar a qualidade de vida das pessoas, para diminuir o uso de combustível fóssil na extração e transporte dos minérios. Resta-nos criar, de fato, uma mineração que seja sustentável. Até porque a tão sonhada transição energética também não existe sem os apelidados minerais críticos (lítio, cobalto, níquel, grafite, cobre, nióbio, entre outros).

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Por isso, como disse no artigo anterior, está na hora de sairmos da sustentabilidade ideologizada e superficial para uma sustentabilidade pragmática e coerente com a realidade do mundo. Precisamos da mineração, mas de uma mineração que entenda e aplique de fato a lógica da economia circular, aproveitando o que hoje é rejeito como insumo para melhorar a qualidade de vida das pessoas.

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