Caminhos sustentáveis

As mudanças climáticas estão aí

Quanto biogás poderia ser gerado com o lixo produzido nas cidades?

Outro dia, esperava o sinal abrir para atravessar a rua com meus cachorros quando reparei um ônibus urbano e um caminhão de coleta de lixo passando. Olhei para aquele lixo transportado pelo caminhão e pensei: será que o biogás gerado por esse lixo poderia alimentar esse ônibus? Essa pergunta levava a outras: quanto biogás poderia ser gerado com o lixo produzido nas cidades? Quantos ônibus de transporte público poderiam ser movidos por esse biogás? O quanto isso representaria em diminuição de gases de efeito estufa lançados na atmosfera? Ao chegar em casa, decidi pesquisar a resposta dessas perguntas.

Encontrei uma pesquisa da Universidade Federal de Alagoas em parceria com o Instituto Tecnológico do Maranhão e conclui que um aterro projetado para receber resíduos sólidos de uma cidade do tamanho de Governador Valadares (aproximadamente 250 mil habitantes) produz em média de 144.751,4 𝑚3𝐶𝐻4/ano.

Já um outro estudo da Universidade Federal de Santa Catarina mostra que o biometano emite em média 75% a menos de material particulado, 85% menos de gás carbônico e 86% menos óxidos de nitrogênio, quando comparado ao diesel.

No site de uma grande produtora de veículos pesados, achei a informação de que o biometano apresenta uma média de consumo igual a 2,02 km/m3, e, portanto, inferior ao diesel cujo consumo médio é de 2,2 km/l. Essa medição levou a outra questão, quantos km por dia um ônibus do transporte público percorre? A resposta foi encontrada nos dados da SPTrans, que aponta para um média de 196 km por dia, ou 71.540 km por ano.

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Unindo os dados, cheguei à conclusão que um aterro de uma cidade como Governador Valadares gera biometano suficiente para um ônibus rodando durante um ano. Os dados parecem decepcionantes para quem imaginava que a utilização do biometano no transporte público poderia ser uma solução para a ação de mitigação das mudanças climáticas. Mas a verdade é que os lixões são apenas uma pequena parte de todo o potencial de geração.

Aos lixões devem ser somados os sistemas de esgotamento sanitário urbano, os resíduos orgânicos oriundos de processos agrários e sucroalcooleiros, entre outros, que segundo a Associação Brasileira de Biogás, devem produzir, 2,7 milhões de metros cúbicos de biogás por dia no Brasil. Vale lembrar que nosso país ainda trata somente metade do seu esgoto e que muitas das usinas existentes não produzem biogás.

Para quem imagina que o investimento para fortalecer a geração de biometano é caro, vale trazer um outro estudo da Universidade Federal do Pará, em parceria com a Universidade Técnica de Dresden, que avaliou que o retorno sobre o investimento de um grupo gerador de biogás para uma usina de tratamento de esgoto é de somente cinco meses.

Nas pesquisas descobri também que em alguns países essa ideia não é nova. Na Suécia esses esforços começaram na década de 70 e hoje o país tem 63% do transporte público baseado em biometano. Na cidade de Linköping, por exemplo, 100% da frota de ônibus é movida a biometano produzido a partir de resíduos orgânicos.

Para os que acham que é coisa de país nórdico, talvez seja bom saber que em Los Angeles, no ano de 2017, a empresa de transporte decidiu transformar 10% de sua frota para operar com biometano. O resultado foi a diminuição dos custos com combustível na ordem de 19%. Em 2022, metade dos ônibus já rodava com gás e naquele ano a economia anual só com combustível foi da ordem de US$ 500 mil.

Por fim, para tentar avaliar novamente a realidade brasileira, um estudo da Universidade de São Paulo afirma que o Brasil tem potencial para substituir quase 50% do diesel consumido no País por biometano. Mas para isso precisa investir na ampliação da escala de produção e utilização do combustível renovável.

Se conseguirmos evoluir nesse sentido, poderemos atacar o terceiro maior emissor de gases de efeito estufa do País, que é o setor de transporte.

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