Por que as Olimpíadas de Paris não são sustentáveis como prometem
Os Jogos Olímpicos são uma vitrine global e desde as Olimpíadas do Rio, em 2016, ações em prol da sustentabilidade têm sido adotadas na organização do evento. Nas Olimpíadas de Paris, a promessa é de que as emissões de gases de efeito estufa serão reduzidas em até 50% em comparação com os jogos de Londres, em 2012, atingindo aproximadamente 1,58 milhão de toneladas de CO2. A redução de 50% foi muito mais divulgada do que o fato de que as Olimpíadas vão gerar 1,58 milhão de toneladas de CO2 extras para um mundo que já não consegue lidar com as que gera diariamente.
O Comitê Olímpico Internacional (COI) afirmou que irá compensar esse montante. Se considerarmos que cada árvore pode compensar aproximadamente 200kg de CO2 ao longo de sua vida, precisaríamos de 7.900.
Outro aspecto muito alardeado é a utilização de 100% de energia renovável para o abastecimento dos jogos. Mas é preciso compreender como está distribuída a matriz energética do país, pois o evento adiciona demanda ao sistema e só faz sentido dizer que ele está sendo 100% abastecido com energia sustentável se a matriz energética for totalmente renovável ou se a carga extra tiver sido toda abastecida por novos investimentos em energia renovável.
A primeira possibilidade é desmentida no relatório da Agência Internacional de Energia, que aponta que a matriz energética da França é composta por 86,7% de geração a partir de fontes não renováveis. Sobre a segunda possibilidade, não foi possível identificar os dados de demanda e ampliação de capacidade de geração renovável no território francês para fins de comparação.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
Outro aspecto que tem sido muito noticiado é a utilização de 95% de estruturas temporárias ou já existentes, fato que tem potencial de ser bastante positivo, uma vez que reduz o uso de materiais como o cimento, que é muito poluente. Entretanto, não basta que as estruturas possam ser reutilizadas, é preciso garantir que elas serão, de fato, reaproveitadas.
Além desses, ainda existem outros problemas como patrocinadores controversos; manejo inadequado do lixo extra; instalações olímpicas que se tornam elefantes brancos; falta de transparência e Accountability.
Nesse contexto, um estudo da Universidade de Lausanne, na Suíça, analisou dados de todas as Olimpíadas realizadas entre 1992 e 2020 e concluiu que a sustentabilidade dos jogos tem diminuído. A melhor Olimpíada da história, em termos de sustentabilidade, foi a de Barcelona, em 1992 – ou seja, antes dos esforços do COI em prol do meio ambiente, com pouco mais de 50% dos critérios atendidos. Já a pior foi a do Rio, com menos de 30% dos critérios atendidos.
Os Jogos Olímpicos têm o potencial de ser um modelo de sustentabilidade para eventos globais, mas, infelizmente, a realidade é que ainda estamos bem longe dos patamares que precisamos atingir.
Ouça a rádio de Minas