Caminhos sustentáveis

O planeta chegou ao primeiro ponto de ruptura climática

Mesmo que as emissões de gases de efeito estufa sejam reduzidas, ecossistemas afetados podem não se recuperar

Segundo o Global Tipping Points Report 2025, divulgado na segunda-feira (13), os recifes de corais de águas quentes, que sustentam quase um bilhão de pessoas e abrigam um quarto da vida marinha, estão passando por um ponto de ruptura climática. Isso significa que, mesmo que as emissões de gases de efeito estufa sejam reduzidas, esses ecossistemas podem não se recuperar.

O relatório, elaborado por mais de 200 cientistas de instituições como a Universidade de Exeter e o Stockholm Resilience Centre, alerta que estamos nos aproximando de múltiplos pontos de ruptura no sistema terrestre e que isso tem consequências devastadoras para a humanidade e a natureza.
O termo “tipping point”, ou ponto de ruptura, descreve o momento em que um sistema natural ultrapassa um limite crítico e entra em colapso irreversível. É como empurrar uma cadeira até que ela tombe, há um ponto exato em que não há volta.

No contexto climático, isso pode significar a morte em massa de recifes de corais, o colapso das calotas polares, elevando o nível do mar em metros, a degradação da floresta amazônica, com perda de biodiversidade e impactos sociais; a interrupção da circulação oceânica que regula o clima global. Todos esses sistemas estão interligados. Quando um colapsa, tende a desencadear uma reação em cadeia, como peças de dominó.

O relatório mostra que o planeta já aqueceu cerca de 1,4°C em relação à era pré-industrial. A meta do Acordo de Paris é limitar esse aumento a 1,5°C, mas estamos prestes a ultrapassá-la. Cada décimo de grau adicional aumenta o risco de cruzar novos pontos de ruptura.

Nem tudo são más notícias. O relatório também destaca os chamados positive tipping points, mudanças rápidas e autorreforçadas que podem transformar a sociedade para melhor. Os exemplos desse tipo são a queda no custo da energia solar, que acelera sua adoção; a popularização dos veículos elétricos, especialmente na China e na Noruega; a expansão da agricultura regenerativa e das dietas sustentáveis. Essas mudanças podem se espalhar rapidamente, se forem bem estimuladas por políticas públicas e ação coletiva.

O relatório chega às vésperas da COP30, que será realizada em Belém, no Pará. O presidente designado da conferência, André Aranha Corrêa do Lago, propõe transformar o medo dos pontos de ruptura em esperança com um “Mutirão Global” de soluções concretas. A proposta é mobilizar governos, empresas e comunidades para acelerar a transição para um mundo de baixo carbono, resiliente e justo. O Sul Global, no qual o Brasil está incluído, tem papel central, com iniciativas como reflorestamento, bioeconomia e inovação social.

A mensagem é clara: o tempo de espera acabou. Precisamos agir juntos: governos, empresas, cidadãos. Só assim será possível evitar uma reação em cadeia de colapsos ecológicos. Como resume a coautora Laura Pereira, do Stockholm Resilience Centre: “Ainda há tempo para agir e criar um futuro mais sustentável e justo para todos.”

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