O primeiro dia de COP30 nos encheu de decepção e vergonha
Desde o anúncio de que Belém sediaria a COP30, mantive uma posição de claro e entusiasmado apoio. Acreditava que a realização da conferência no Pará representava uma oportunidade histórica para colocar a Amazônia no centro do debate climático global e para recolocar o Brasil no papel de protagonista.
Ao longo dos preparativos surgiram muitas outras críticas, como, por exemplo, a dos preços dos hotéis. Nesses momentos, também me posicionei contra o discurso alarmista e a crítica generalizada, enalteci as soluções criativas como a construção de domos e a utilização de cruzeiros (mesmo sabendo que gastam muito combustível fóssil), pois a escassez da rede hoteleira tradicional exigia alternativas.
Com base no espírito de quem sabe faz acontecer e não fica dando desculpas, embarquei na expedição de motorhome idealizada e organizada pelo IBAM. Estava empolgado, teríamos a possibilidade de ouvir as pessoas, entender os problemas na prática, debater e propor soluções na Zona Azul, da COP da Amazônia. No entanto, o que esperávamos ser motivo de orgulho tornou-se uma grande decepção. A estrutura física da Blue Zone, onde ocorrem as negociações oficiais, simplesmente não foi concluída.
A empresa responsável por essa área, a DMDL, recebeu cerca de R$ 182 milhões para executar o projeto e alegou ter faturamento anual de R$ 1 bilhão, mas a empresa que se apresentou como referência em inovação e eficiência fez, na realidade, uma grande lambança. O primeiro dia foi um caos, a infraestrutura era precária, nem o ar-condicionado nem a internet funcionavam, diversos pavilhões não tinham absolutamente nada e a correria das pessoas para viabilizar, ainda que precariamente, a operação dos pavilhões intensificou o caos. A zona azul se tornou uma sauna caótica que exalava incompetência operacional por todos os lados.
Os pobres-coitados dos montadores tentavam justificar a bagunça afirmando que o cronograma era apertado, porém essa afirmativa não se sustenta. A contratação foi formalizada em junho, com previsão de início das obras em julho. Foram mais de quatro meses para concluir uma estrutura temporária, tempo suficiente para uma empresa experiente e com grande força financeira. Mas a incompetência demonstrada pela empresa colocou em risco a imagem do Brasil perante o mundo.
Claro que surgiram aqueles que diziam que isso não aconteceu só no Brasil, e eles têm razão. Na COP27, realizada no Egito, também houve atrasos e falhas graves na infraestrutura. Mas dois erros não fazem um acerto e ao invés de justificar o erro, esse argumento o torna ainda mais inadmissível, pois o fato de problemas semelhantes já terem acontecido deveria ter servido de alerta.
A COP30 é observada por líderes mundiais, cientistas, ativistas e jornalistas, é, portanto, um palco global e o que estamos mostrando para o resto do mundo, infelizmente, é um exemplo de má gestão e falta de responsabilidade.
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