Caminhos sustentáveis

Privatizações no caminho da sustentabilidade: é preciso aprender com os erros cometidos

Se os processos de privatização em décadas passadas poderiam ter sido melhor conduzidos, há de se destacar também notórios exemplos de resultados públicos relevantes

Nunca entendi o dogmatismo em torno das privatizações. Se por um lado é certo que os
processos de privatização realizados nas décadas de 1980 e 1990 poderiam ter sido melhor
conduzidos, por outro, há notórios exemplos de resultados públicos relevantes. Não dá para jogar fora aquilo que é bom para evitar aquilo que não presta, ao fazê-lo perdemos a capacidade de evoluir e desperdiçamos os possíveis benefícios. Por isso, ao invés de demonizar a privatização, seria mais interessante aprendermos com os erros cometidos.

Não me lembro de ter lido nenhum artigo debatendo o possível papel que a privatização pode
ter na sustentabilidade, mas a separação entre quem executa e quem fiscaliza está na essência da privatização e é algo que me interessa, gostaria de me arriscar nesse caminho.
Em primeiro lugar, parto do pressuposto de que, o que determina o sucesso de uma política
pública são os resultados que ela gera para a população.

Em segundo lugar, a quantidade de pessoas necessárias para executar uma política pública é
muito superior àquela necessária para fiscalizar essa mesma política. Portanto, a maior dinâmica de alocação de pessoas do “privado” pode ser interessante.

Em terceiro lugar, quando a mesma entidade executa e controla, não há incentivos para ser
transparente, a publicidade se torna um problema ao invés de solução. Mas se o foco for a
fiscalização, quanto maior a participação da população mais efetivo se torna o trabalho da gestão pública.

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Por tudo isso, acredito que, dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, pelo menos 10
podem ser direta e positivamente impactados por processos mais intensivos de privatização. Estou falando aqui da privatização no sentido amplo, ou seja, toda e qualquer forma de transferência de execução de ações para a iniciativa privada ou terceiro setor.

No contexto do ODS 3 (saúde e bem-estar); atualmente dos 40 melhores hospitais públicos, 39
são geridos por Organizações Sociais de Saúde. No ODS 4 (educação), onde a privatização é um enorme tabu, o programa de Unidades Municipais de Educação Infantil (UMEI) permitiu a Belo Horizonte expandir o número de creches disponibilizadas à população com alto grau de satisfação dos usuários. Essa ação também contribuiu para o ODS 5 (Igualdade de Gênero) ao dar mais tranquilidade para as mulheres em jornada dupla. Além desses, os ODS 6 (água e saneamento), 7 (energia renovável), 11 (cidades sustentáveis), 14 (vida na água), 15 (vida terrestre), 16 (instituições eficazes), 17 (parcerias) também podem ser fortalecidos pela privatização.

Portanto, vejo a privatização como um poderoso aliado da sustentabilidade. Entretanto, para que isso se concretize,é preciso haver uma estrutura de coleta, tratamento e análise de dados clara e transparente que facilite a participação popular. A voz da população deve ser elemento
indispensável em todas as fases do processo.

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