Caminhos sustentáveis

Produção de energia agrovoltaica: o campo que alimenta e ilumina o mundo

Diversos projetos brasileiros estão testando os benefícios do agrovoltaico

Segundo a FAO, para alimentar toda a população mundial até 2050, será necessário aumentar a produção de alimentos em cerca de 70%. Ao mesmo tempo, dados da ONU indicam que, se nada mudar, cerca de 1,5 bilhão de pessoas ainda viverão sem acesso à eletricidade até lá. Essas duas urgências estão no centro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 2 — Fome Zero e Agricultura Sustentável — e 7 — Energia Limpa e Acessível.

Se olharmos para o cenário atual, a situação se torna ainda mais complexa. 80% da energia consumida no mundo ainda vêm de combustíveis fósseis, responsáveis por aproximadamente 75% das emissões de gases de efeito estufa. Portanto, ampliar acesso nas condições atuais significa necessariamente aumentar as emissões.

Mas não precisa ser assim. Todo o combustível fóssil da Terra representa apenas uma fração da energia que recebemos diariamente do Sol. Para se ter ideia, em apenas 90 minutos, o Sol envia à Terra energia suficiente para abastecer todas as necessidades humanas por um ano inteiro.

Mas, tradicionalmente, as áreas ocupadas por painéis solares são vistas como improdutivas para outras finalidades. É aí que a produção agrovoltaica pode fazer a diferença. Estudos no Brasil, Espanha e Alemanha apontam que a estratégia de unir painéis solares com cultivo de alimentos e até criação de animais podem aumentar a produtividade agrícola em até 100%, reduzir o consumo de água — por diminuir a evaporação — e contribuir para a conservação da biodiversidade, já que os painéis ajudam a reduzir a temperatura do solo.

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


Diversos projetos brasileiros estão testando os benefícios do agrovoltaico. Em São Paulo, a Fazenda Solar Floresta cultiva milho sob painéis solares. No Rio Grande do Sul, pesquisa da UFRGS mostra que esse modelo é viável mesmo em locais com menor incidência solar, como Porto Alegre. Em Alagoas, a Ufal comprovou que a cana-de-açúcar cresce melhor associada aos painéis. Em Minas Gerais, uma parceria entre Epamig, Cemig e Fapemig está investindo R$ 10,5 milhões no desenvolvimento de projetos agrovoltaicos — com previsão de geração de 2,4 GWh por mês, aumento de até 30% na eficiência do uso da água e elaboração de um manual e proposta de regulamentação para o sistema no Brasil.

Claro que ainda existem desafios — como adaptação das culturas às sombras e mecanização adequada —, mas a produção agrovoltaica tem se firmado como um caminho para o desenvolvimento econômico e social responsável. Ela permite a diversificação das atividades econômicas, impulsiona a transição energética justa e responde, ao mesmo tempo, às demandas por mais alimentos e por mais energia limpa.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas