Caminhos sustentáveis

Quando ônibus elétricos apontam o caminho

Temos soluções mais rápidas, mais baratas e mais adaptáveis à realidade das cidades brasileiras

Eles não deslizam sobre trilhos, mas funcionam como metrô. Circulam em faixas exclusivas, param em estações com plataforma elevada e transportam milhões de pessoas todos os dias. Assim é o TransMilenio, o sistema de transporte coletivo de Bogotá, que virou referência internacional não por sofisticação tecnológica, mas por entregar simplicidade, escala, eficiência e impacto. Ele se baseia no modelo de BRTs com estrutura semelhante à do metrô, mas seis vezes mais barato. Desde sua instalação, o tempo das viagens reduziu cerca de 22%, o que equivale a uma economia diária de 667 mil horas dos cidadãos, nada mal para aquela que já foi considerada a cidade com o pior trânsito do mundo.
E Bogotá não é a única capital da América Latina a investir nesse tipo de mobilidade. Na outra ponta do continente, Santiago, no Chile, é a capital com a maior quantidade de ônibus elétricos da América Latina, cerca de 2.500, enquanto Bogotá, segundo lugar, possui cerca de 1.400.

Como esses países estão fazendo essa transição de maneira tão rápida quando um ônibus elétrico é 3 vezes mais caro que o a diesel? Parte dessa resposta está no modelo adotado: por lá, os ônibus são propriedades do sistema e não da concessionária. Assim, quando a concessão da operação acaba, os veículos continuam no sistema público e passam a ser operados pela empresa seguinte, ampliando a vida útil dos equipamentos. Como o custo de operação e manutenção do ônibus elétrico é significativamente menor do que do ônibus a diesel, quanto maior sua vida útil, maior o retorno sobre o investimento.

É importante lembrar que, embora esses veículos não emitam CO₂ enquanto rodam, sua produção, transporte e descarte ainda estão longe de ser limpos. As baterias — compostas de metais pesados como lítio, cobalto e níquel — exigem extração intensiva e geram resíduos tóxicos ao fim da vida útil. Estima-se que a fabricação dos elétricos emita cerca de 30% a mais de CO₂ quando comparada à de ônibus a diesel, e seu fim de vida ainda depende de reciclagem pouco eficiente. Mesmo assim, o balanço operacional é positivo: segundo dados oficiais da prefeitura de Bogotá, o sistema BRT reduz as emissões de poluentes atmosféricos a uma taxa média anual de 579 mil tCO₂eq. Bogotá e Santiago já fizeram suas escolhas, enquanto seguimos esperando metrôs que nunca saem do papel.

Temos à disposição soluções mais rápidas, mais baratas e mais adaptáveis à realidade das cidades brasileiras. Cabe a nós decidir se vamos continuar presos nos engarrafamentos e nas promessas ou se teremos coragem de sair do lugar com as soluções que já temos à mão. Porque o futuro exige direção e investir em sistemas de mobilidade mais simples e integrados, exigir progressivamente frotas limpas nos contratos públicos são caminhos viáveis, especialmente quando articulados a uma visão da mobilidade não apenas como deslocamento, mas como direito, como saúde e como estratégia de mitigação climática.

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