Caminhos sustentáveis

Transformando plástico em combustível

Avanços tecnológicos estão oferecendo possíveis respostas para a questão do plástico e a economia circular

Em um mundo onde a produção de plástico ultrapassa os limites do sustentável, a natureza tem sido a maior vítima do consumo desenfreado. Segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, anualmente, 11 milhões de toneladas de plásticos encontram o caminho para oceanos, causando danos irreparáveis à fauna e à flora. Além do prejuízo estético que causa danos ao turismo, a poluição plástica também representa uma grave ameaça à saúde pública e à biodiversidade.

Muito se fala sobre a importância de se reduzir a geração e o consumo de plástico, mas quase sempre o tratamento de milhões de toneladas já produzidas é quase sempre relegada à reciclagem ou a algumas poucas iniciativas de reaproveitamento. O problema é que existem muitos tipos de plástico (PET, PVC, PP, PS, etc.). Essa variedade dificulta a triagem e o processamento, pois nem todos os tipos são compatíveis entre si. Além disso, a contaminação cruzada de plásticos e de outras substâncias acabam tornando o processo de reciclagem ineficiente ou inviável. O resultado é que apenas 9% do plástico produzido globalmente é reciclado e cerca de 80% vai para aterros ou para o ambiente natural.

Uma pergunta tem atormentado muitos pesquisadores na área de sustentabilidade. Como incluir o plástico em uma economia circular? Felizmente, avanços tecnológicos estão oferecendo possíveis respostas a essa pergunta. Recentemente, pesquisadores de três países (China, Estados Unidos e Alemanha) se uniram e publicaram o artigo “Aprimoramento integrado de PVC e poliolefinas em baixa temperatura”, o nome pouco intuitivo esconde algo que pode ser transformador: a transformação de lixo plástico em combustível.

O artigo foi publicado na revista Science e propõe um processo integrado e de baixa temperatura para converter resíduos plásticos em produtos químicos valiosos, como hidrocarbonetos leves. Mas o que são hidrocarbonetos leves? São compostos orgânicos formados apenas por carbono (C) e hidrogênio (H), com cadeias curtas. Alguns dos mais famosos são o propano e o butano, normalmente utilizados como gás de cozinha, e octano, que é o principal componente da gasolina.

Segundo o artigo, a técnica apresenta vantagens importantes, como a possibilidade de tratar misturas de plásticos, redução significativa da emissão de gases tóxicos durante o processamento, contribuição para uma economia circular de plásticos, transformando resíduos em insumos industriais.

Não era melhor simplesmente abolir os plásticos? Idealmente sim, porém essa abolição não é rápida e tampouco ajudaria a tratar aqueles que já foram produzidos, usados e descartados. Nesse sentido, uma tecnologia de transição pode ser bastante interessante, já que esses métodos podem reduzir a necessidade de novas fontes de petróleo e minimizar o impacto ambiental, ao mesmo tempo em que aproveita resíduos que, de outra forma, seriam descartados.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas