Na contramão da fixação pelo asfalto, transporte coletivo é solução sustentável para a mobilidade urbana
Deparei-me essa semana com dois casos que me chamaram muita atenção, pois embora muito distante geograficamente, demonstram com muita clareza a incapacidade de certas instituições governamentais em lidar com a gestão por evidências. No primeiro, o governo de um estado canadense propunha ampliar o número de vias de uma rodovia que liga Toronto a Montreal. Até aí, pensamento comum em quase todos os lugares do mundo. O que me espantou é que a referida rodovia já possui 18 faixas. Você não leu errado, são dezoito faixas.
Em um outro caso, dois municípios brasileiros debatiam a respeito da necessidade de se construir uma nova ligação asfáltica em meio a uma reserva ecológica, responsável pelo abastecimento hídrico de um grande aglomerado urbano. A finalidade? Desafogar a conexão entre as duas cidades que está sempre congestionada.
A coincidência das soluções em casos tão distantes geograficamente me chamou a atenção e foi aí que eu reparei que a ampliação de vias e a construção de estradas têm sido a solução tradicional adotada por muitos governos ao redor do mundo para reduzir o congestionamento. O problema é que existem centenas de casos, Nova York, São Paulo, Toronto, e até mesmo nos municípios citados, que comprovam que a solução na realidade não é eficaz e tende a piorar o problema.
A questão é tão conhecida academicamente que tem até um nome para chamar de seu, Fenômeno do Tráfego Induzido. O que acontece é que, quando novas vias são construídas, elas tornam o uso do carro mais conveniente, isso faz com que mais pessoas prefiram escolher usar seus carros para se movimentarem pela cidade. Com mais pessoas dirigindo, o número de veículos aumenta rapidamente e o resultado é que os congestionamentos se tornam ainda maiores. Outras variáveis podem influenciar o problema, como o aumento dos atropelamentos, dos acidentes etc.
O conteúdo continua após o "Você pode gostar".
Se queremos de fato resolver o problema da mobilidade e aumentar o desenvolvimento dos centros urbanos, precisamos ir na direção oposta. Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá, foi preciso ao afirmar: “Uma cidade desenvolvida não é aquela em que os pobres podem andar de carro, mas aquela em que os ricos usam o transporte público”.
A solução sustentável da mobilidade está em ampliar e melhorar os meios de transporte coletivo, alargar as calçadas, para que mais pessoas caminhem, interajam, consumam; incentivar o transporte ativo e dificultar o uso do automóvel.
Ouça a rádio de Minas