Capitalismo Consciente

A orientação para stakeholders e a geração de valor

A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid/Brasil), em parceria com 46 empresas americanas no Brasil, tornou público, em 2006, por meio do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife), o estudo “Investimento Social Privado dos EUA no Brasil: uma análise de empresas do Grupo + Unidos”, no qual as empresas americanas foram estimuladas a investir no Brasil, levando-se em conta padrões de sustentabilidade. A visão era otimista: a atividade empresarial privada brasileira seria um caminho para a redução dos níveis de desemprego e pobreza, elevação de renda, promoção do desenvolvimento econômico, melhoria do bem-estar social e a gestão inteligente dos recursos naturais e financeiros.

Em 18/10/2006, a Embaixada Americana no Brasil convidou o economista e professor Jeffrey Sachs, que proferiu uma palestra sobre responsabilidade social corporativa para mais de 130 empresários brasileiros, destacando a oportunidade de atuação de suas empresas em lugares nos quais a população não tem acesso às mercadorias vendidas por eles: “há em locais como estes, uma grande oportunidade para se promover uma transformação social, real e histórica”.

Quase 20 anos depois deste evento, há uma jornada gradativa de consciência na relação com os stakeholders, um dos pilares do Capitalismo Consciente, que vem sendo trilhada por um número cada vez maior de empresas, mas, no geral, ainda de forma descontinuada. Houve um aumento, por parte das empresas, na procura e obtenção da ISO 14.001 (norma internacional de gestão ambiental). Outra certificação procurada é a Forest StewardshipCouncil (FSC), que atestou que: 90% das empresas consultadas possuem política explícita de não utilização de materiais e insumos provenientes da exploração ilegal de recursos naturais e desenvolvem periodicamente iniciativas de educação ambiental voltadas ao seu público interno; e 80% das empresas consultadas envolvem outros grupos de interesse, tais como consumidores, clientes, fornecedores e comunidade nas ações de educação ambiental que desenvolvem periodicamente junto ao seu público interno e também apoiam ONGs ou projetos da comunidade que lidam com questões ambientais.

Nesse sentido, a partir da maior percepção dos conceitos de Responsabilidade Social Corporativa e Cidadania Corporativa, altera-se o objetivo exclusivo de geração de lucropara o acionista paraoutro objetivo mais contemporâneo: “construir uma sociedade melhor” (PLESSIS; HARGOVAN; BAGARIC, 2011).

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Desde abril de 2004, a OCDE vem estimulando o debate acerca da importância dos stakeholders na aplicabilidade da governança corporativa e a sua contribuição para o sucesso da companhia. Ou seja, já se percebeu que as melhores práticas de governança, efetivamente aplicadas, trazem um ambiente propício ao investimento e, portanto, à longevidade, o que, em regra, viabiliza a estratégia e materializa uma expectativa que não está mais restrita aos acionistas, apenas, mas às partes interessadas. A boa interface com os credores, empregados, consumidores, fornecedores, meio ambiente e o governo, se constitui no caminho para a criação de riqueza e outros benefícios para todos os envolvidos.

As partes interessadas participam da operação da empresa e compartilham um risco comum, tanto em benefícios quanto em perdas. “Os fluxos entre a empresa e os stakeholders são recíprocos: de certa forma, recebem e contribuem com a empresa e, portanto, podem ser beneficiados ou até mesmo prejudicados nessa relação” (Post; Preston; Sachs, 2002). A maximização de valor ao acionista não é mais suficiente para nortear, exclusivamente, o caminho do sucesso empresarial, principalmente, quando obtido com o sacrifício dos colaboradores, do meio ambiente e da sociedade em geral: negócios bons são politicamente corretos e eticamente justos.

Muito interessante é a filosofia do King Report on Governance for South Africa, de 2009, que se definiu sobre três pilares: liderança, sustentabilidade e cidadania corporativa. A redação não poderia ser mais categórica em relação à sustentabilidade e sua importância nas estratégias empresariais: “sustentabilidade é o imperativo moral e econômico prioritário do século XXI”.

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