Capitalismo Consciente

Água: ativo necessário ao ser humano e à IA

Quando o assunto é escassez, um ponto focal é a água doce, com sua fração de 2,5%

Pelo princípio da escassez, preços podem alcançar valores altos, desestabilizando a política, a economia e arranjos sociais. O sistema de preços ignora limites e a moral, advindo de um mecanismo econômico simples: oferta e demanda. Movimentos extremos de preços podem gerar uma divergência significativa na distribuição da riqueza, com consequências sérias e graves.

Um debate se instalou após a passagem do furacão Charley na Flórida (2004): a política de preços em tempos de escassez. Cobrou-se US$ 23 mil para a limpeza de telhados; pequenos geradores domésticos, de US$ 250, custaram US$ 2 mil. “Depois da tempestade vem os abutres”, foi a manchete do “USA Today”.

Quando o assunto é escassez, um ponto focal é a água doce: a sua fração é de 2,5%: 70% estão congeladas nas calotas polares e 29% nos aquíferos subterrâneos. A água doce superficial é de 1%. Imaginem um manancial que abastece rios e estes, cidades e empresas. Em tempo de escassez, de quem é a prioridade?

Em 2006, o Google abriu seu data center em The Dalles (Oregon). Se propalou investimentos de mais de US$ 1,8 bilhão e geração de mais de 200 empregos; negou-se a ser transparente quanto ao volume de água usado para o resfriamento dos seus servidores.

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Distante dos fundamentos do capitalismo consciente, além da falta de transparência, o Google financiou a cidade de The Dalles na elaboração de uma ação contra o jornal “The Oregonion”, para impedir qualquer divulgação, alegando existir “segredo comercial” quanto ao uso da água.

A informação tornou-se pública após uma batalha judicial de 13 meses entre a cidade e o jornal. A cidade concordou, não apenas em entregar os dados sobre o histórico do consumo, mas, também, em manter a transparência. A partir de 2019, a empresa quase triplicou o uso da água, chegando em 2023 a utilizar mais de 25% da água usada em The Dalles. Em 2021, o consumo foi de mais de 1 bilhão/litros.

Disputas sobre o uso da água ficaram conhecidas: nos EUA (2003), a contenda entre San Diego e Las Vegas, pelas águas do rio Colorado; e, no Brasil (2014), entre São Paulo e Rio de Janeiro, pelas águas do rio Paraíba do Sul. Em ambos os casos, as disputas se deram pelo abastecimento de cidades e de suas populações, em momentos de escassez.

Em The Dalles, a disputa da água se estabelece entre o ser humano e a IA. O uso de água pela empresa é crescente, visto os planos de mais dois data centers no rio Columbia. Investimentos em medidas de prevenção e mitigação de risco foram anunciados. E, para que nenhum cenário de ficção científica se instale, que tenhamos o bom senso de não transferir para a IA a gestão e o controle da água doce do planeta.

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