Capitalismo Consciente

O Capitalismo Consciente chega aos Conselhos das Empresas

Recentemente ouvi uma afirmação bem interessante: “Não estamos vivendo uma era de mudanças, mas sim uma mudança de era.” De fato, nestes últimos tempos, temos vivido grandes mudanças e desafios em nossa sociedade, que se refletem no cenário dos negócios e das empresas. A pandemia da Covid 19 exacerbou nossas fragilidades, e questões relacionadas a direitos humanos, desigualdade social e risco climático, por exemplo, começaram a fazer parte da agenda das lideranças de negócios. Alçadas pelo ESG, que abrange fatores ambientais, sociais e de governança, as questões foram elevadas à categoria de temas estratégicos.

Neste cenário, o capitalismo de stakeholders, em que se busca gerar valor para todas as partes interessadas e não apenas os acionistas, ganhou relevância e, com ele, abordagens de negócios que pudessem favorecer este olhar mais amplo sobre o papel das empresas na geração de valor para a sociedade.

Uma destas abordagens é o Capitalismo Consciente, que está baseado em quatro pilares: propósito elevado nos negócios, liderança consciente, orientação para stakeholders e cultura consciente. Quando estes quatro pilares são construídos tem-se um negócio consciente, que além de buscar o lucro busca impactar positivamente a sociedade. E como isto pode acontecer de fato nas empresas? Pelo interesse genuíno e preparo da alta liderança, especialmente dos Conselhos Consultivos e de Administração.

Em tempos em que as questões ESG ganham cada vez mais destaque, é possível perceber o quanto ainda precisamos avançar. De acordo com uma pesquisa realizada em 2022 pela PWC com conselheiros e conselheiras de empresas de capital aberto ao redor do mundo, 55% deles relataram que as questões ESG fazem parte da agenda do Board (em 2019, 34% afirmaram isso), mas apenas 24% reportaram que o conselho compreende muito bem as oportunidades atreladas às questões ESG, 27% compreendem muito bem os riscos e 42% compreendem muito bem a estratégia ESG da empresa. De forma geral, o que se percebe é que o discurso está muito desalinhado com a prática.

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Para avançarmos mais, é preciso uma profunda mudança nos valores e na cultura organizacional e, novamente, os conselhos das empresas cumprem um papel fundamental como guardiões do propósito, dos valores, do objeto social da organização e de seu sistema de governança. E a abordagem do Capitalismo Consciente, com os seus quatro pilares, pode favorecer os avanços necessários de forma concreta e genuína.

Felizmente, nos últimos dois anos, crescem iniciativas de incluir o tema nos programas de desenvolvimento e formação de conselheiros. Por exemplo, a partir de 2021 a Fundação Dom Cabral inseriu o tema em um dos módulos do Programa de Desenvolvimento de Conselheiros. Em 2022, a EdTech Board Academy, inseriu o módulo ESG, Sustentabilidade e Capitalismo Consciente em seu Programa de Formação e Certificação de Conselheiros. O Cedin também incluiu o tema em seu programa de formação de conselheiros. No Capítulo Minas Gerais do IBGC, Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, temos abordado também o tema transversalmente em algumas iniciativas, por exemplo, nos diálogos da Rede de Mulheres Líderes na Governança.

Ainda há muito a ser feito, sem dúvida, mas dentre avanços e alguns retrocessos estamos no caminho e seguindo em frente, com obstáculos no caminho, mas com um número crescente de lideranças conscientes, que querem de fato gerar valor não apenas para o negócio mas para todos os stakeholders, sem deixar ninguém para trás.

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