Capitalismo Consciente

Comunicação para a sustentabilidade: o poder dos influenciadores digitais

Transparência, congruência e diálogo são exigências crescentes de consumidores, investidores e colaboradores

Não é de hoje que os influenciadores digitais ocupam o espaço que antes pertencia aos grandes veículos de comunicação. Guy Debord, em A Sociedade do Espetáculo (1967), já analisava como a mídia e todo um sistema de representações faz com que vivamos em função de imagens, mercadorias e aparências. Sua crítica visionária antecipou fenômenos que hoje vemos nas redes sociais, na cultura das celebridades e no consumo de “vidas perfeitas” encenadas por influenciadores no Instagram e no TikTok.

Com milhões de seguidores atentos a cada post, eles moldam comportamentos e engajam multidões em torno de causas sociais. Em determinadas ocasiões, essa força pode se conectar diretamente à sustentabilidade, ainda que sem o rótulo explícito.

Felca, ao ironizar a adultização de crianças, escancarou um problema sério: a banalização da exposição infantil e a conivência de marcas e plataformas. Seu vídeo alcançou mais de 45 milhões de visualizações e impulsionou 17 projetos de lei na Câmara. Uma pauta de ética, direitos e consumo responsável — sustentabilidade social em essência.

Na mesma lógica, a visita de Anitta a uma aldeia indígena gerou polêmica, mas também um salto de 6.200% nas buscas no Google sobre povos indígenas em apenas 24 horas. De repente, milhões discutiam cultura, território e preservação de saberes ancestrais. É comunicação que provoca incômodo, mas aproxima realidades distantes.

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E o caso de Virgínia Fonseca amplia o debate. Ao promover casas de apostas, a influenciadora foi convocada a depor na CPI das Bets e virou símbolo da naturalização de um setor que já provoca vício e endividamento em milhares de jovens. O episódio trouxe à tona uma questão central para empresas: até que ponto uma marca pode vincular sua imagem a influenciadores sem avaliar criticamente os impactos sociais de tal parceria?

É aí que a comunicação para a sustentabilidade encontra o ambiente corporativo. Transparência, congruência e diálogo — princípios também defendidos pelo Capitalismo Consciente — são exigências crescentes de consumidores, investidores e colaboradores. A incoerência, assim como no universo dos influenciadores, é rapidamente percebida e cobrada. Apoiar causas legítimas e alinhadas com o propósito tornou-se requisito. Marcas que ignoram esse movimento veem sua reputação abalada pela mesma lógica que expõe contradições no universo digital.

O recado é claro: a educação para a sustentabilidade já acontece em feeds e stories. Reconhecer esse poder — e atuar com autenticidade — é essencial para que a comunicação, seja de indivíduos ou corporações, cumpra seu papel transformador.

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