Empreender no Brasil: o custo emocional que ninguém quer ver
A Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), do Ministério do Trabalho e Emprego, foi atualizada em 2024 – com vigência a partir de maio de 2025 – para incluir os chamados riscos psicossociais no ambiente de trabalho. Fatores como pressão por resultados, desequilíbrio entre vida pessoal e profissional, sobrecarga de trabalho e ausência de apoio psicológico podem ser citados como exemplos de atos que afetam diretamente o bem-estar dos trabalhadores.
A inclusão dos riscos psicossociais na regulamentação trabalhista representa um avanço significativo. No entanto, é fundamental que essa sensibilidade também alcance o pequeno empresário – aquele que, sem rede de apoio ou respaldo normativo, enfrenta diariamente o desafio de manter seu negócio e sua sanidade mental.
Imagine, por um momento, a vida do pequeno empresário brasileiro. Aquele que acorda cedo, dorme tarde, resolve tudo, assina tudo, responde por tudo. Aquele que, mesmo exausto, precisa esconder o cansaço atrás de um semblante firme e seguir segurando o negócio com as próprias mãos.
O custo do empregador é cerca de 50% superior ao salário bruto do empregado. Na segunda semana de trabalho, o colaborador apresenta um atestado médico de sete dias por “dor no estômago”. Aliás, supostamente por dor no estômago porque o CID não foi informado em razão da LGPD. O empresário engole seco, toma um omeprazol e, literalmente, arregaça as mangas para cobrir a ausência daquele empregado, porque não pode desviar função de outro funcionário – e, muitas vezes, não tem outro.
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Esse mesmo empresário, nas horas vagas (que não existem), faz curso de gestão no fim de semana, entra em mentorias à noite, revisa contratos, corta custos, negocia prazos, projeta crescimento. Define metas para o negócio prosperar, mas sua equipe acha que as metas são inatingíveis e se sentem muito pressionados para alcançar os objetivos estabelecidos para o crescimento da empresa. Lucro? Nem sempre existe. Toda a receita é revertida para o negócio sobreviver mais um mês.
A conta emocional de cumprir todas as exigências legais, fiscais, trabalhistas e ainda cuidar de gente, de vendas, de mercado, muitas vezes chega antes do faturamento. E o preço é alto: ansiedade, solidão, frustração. A saúde mental do pequeno empresário está em colapso silencioso.
Vale lembrar: pequenos negócios empregam mais de 52% da força de trabalho do setor privado e representam cerca de 30% do PIB nacional. A Constituição Federal garante a eles um tratamento diferenciado e favorecido. Na prática, o que se vê é um caminho árido, de sobrevivência.
Mas esses negócios vão além de números: geram empregos, movimentam economias locais, criam vínculos de confiança com a comunidade. Eles são a representação real de um dos pilares do Capitalismo Consciente: o propósito maior. E o empresário, por trás dessa engrenagem, precisa ser visto, respeitado, cuidado. Porque se o pequeno empresário quebrar – emocionalmente, financeiramente, juridicamente – o que desmorona não é só um CNPJ. É um ecossistema inteiro que se sustenta com muito esforço, coragem e resiliência.
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