Empresa familiar é diferente de empresa como família
Passamos mais tempo da nossa vida convivendo com colegas de trabalho do que com membros da nossa própria família. Ter um ambiente de trabalho saudável é essencial, e é bastante comum ouvirmos o jargão “aqui somos como uma família”. Não acredite nisso.
A empresa familiar é aquela em que membros de uma mesma família constituem uma empresa, e a vida daquela família gira em torno desse negócio, inclusive a questão patrimonial. É muito comum que os bens, principalmente imóveis, sejam registrados em nome da pessoa jurídica, e fique para depois resolver o que fazer com eles. Todos trabalham juntos e, muitas vezes, as decisões sobre o futuro da empresa são tomadas na mesa do almoço de domingo.
A intimidade permite debates acalorados sobre rumos estratégicos, mas ninguém será demitido por discordar, errar ou admitir que não sabe o que fazer. Há espaço para concessões: pode marcar sua aula de jiu-jitsu às 10h e emendar direto com o almoço; pode fazer aquele intercâmbio de inglês em Malta no verão, sem culpa.
Já na empresa “normal”, mesmo que tenha um ambiente amigável, a relação pessoal nunca se sobrepõe à profissional. Você pode ter anos de casa, mas, se não performar, se não cumprir metas ou se discordar demais do chefe, tá fora. Voltou da licença-maternidade e engravidou de novo? Fora. Tem mãe doente e precisa se ausentar com frequência? Não dá. Quer esticar as férias? Só 30 dias. “Mas eu trabalho remoto!” Não. Foi convidado para um seminário na China? Impossível.
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A busca pelo equilíbrio é o desafio. E não é fácil. Por um lado, a empresa familiar precisa entender seu negócio como negócio e separar empresa, família e patrimônio. Investir em governança é o que garante a longevidade e a saúde do negócio. Por outro lado, a empresa não familiar precisa aprender a valorizar as necessidades individuais das pessoas, reter talentos, enaltecer a senioridade e reconhecer que flexibilidade e autonomia são demandas do presente, não do futuro.
No fim das contas, talvez a empresa ideal seja aquela que, sem romantizar vínculos, entenda que, por trás de todo crachá, existe uma pessoa que sente, que erra, que sonha e que também tem uma história pra viver. E que não é possível falar de performance sem falar de pertencimento, liberdade e propósito.
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