Comunicação altruísta, natural e pacífica é exemplo das árvores para lideranças públicas e privadas
Quando a gente pensa num senhor de 86 anos, dificilmente nos vem à cabeça a ideia de um herói. Mas Francis Hallé, renomado biólogo, botânico e professor emérito da Universidade de Montpellier, na França, assim como vários outros ambientalistas conhecidos, é um Superman. Ele é o paladino das árvores do planeta.
Nos anos 1990, Hallé subiu num balão de ar quente e sobrevoou florestas tropicais para compreender que existem milhares de combinações possíveis para as características de cada espécie de árvore – ramos, flores, galhos. A expedição, chamada de Rodeau des Cimes, teve como objetivo explorar o dossel das florestas, uma aventura que resultou na transformação profunda do nosso conhecimento sobre as plantas em sua forma arbórea.
No vasto reino da flora, as árvores são seguramente um dos seres vivos mais proeminentes para o equilíbrio da vida na Terra. E podemos aprender muito com elas. Engenhosas, grandiosas, autônomas e incrivelmente hábeis para ocupar seu espaço e resistir ao controle do ser humano, quando em seu habitat as árvores não incomodam ninguém e só querem viver em paz, algumas por tempo indefinido.
No livro “A vida das árvores”, Hallé cita o trabalho do cientista Wouter Van Hoven. Em 1990, este chamou a atenção para o fato de que as árvores se comunicam entre si, a partir da observação das Acaccia caffra ao redor de Pretória, na África do Sul. Ali grandes gazelas, os kudus, se alimentam de suas folhas. Depois de pouco tempo, os kudus vão embora, mesmo que ainda tenham fome. Ao comparar as folhas antes e depois da visita, Van Hoven descobriu que elas se tornam tóxicas após as primeiras mordidas. E o que ocorre a seguir é ainda mais impressionante.
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Ao deixar a árvore e ir em busca de outra, os kudus andam contra o vento. A surpresa é que todas as acácias que estão do outro lado, a favor do vento, tornam-se tóxicas também. Hallé explica: “A primeira acácia a ser comida enviou uma mensagem às outras que pode ser traduzida assim: cuidado, amigas, há um kudu por perto; se não quiserem ter algumas folhas arrancadas, precisam se tornar tóxicas agora.” O que o vento leva é a molécula etileno, uma substância simples que compõe os hormônios vegetais. É ela que dá o comando para a toxicidade.
Esse tipo de comunicação altruísta, absolutamente natural e pacífica, pode ser um rico aprendizado para nossas lideranças públicas e privadas. O que as árvores nos ensinam no quesito autodefesa é que a melhor estratégia para enfrentar adversidades é o esforço coletivo para criar e implantar soluções conjuntas, colaborativas e pacíficas. Melhores professoras não existem!
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