O mês das mulheres e os caminhos possíveis rumo à equidade de gênero


O último ano mostrou-se desafiador quanto à temática equidade de gênero. Em nível mundial, fomos surpreendidas com dados alarmantes do Relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) o qual revelou que não houve melhora em termos de preconceitos de gênero nos últimos dez anos. O relatório traçou uma fotografia em nível global e apontou dados como “metade da população mundial ainda acredita que os homens são melhores líderes políticos e melhores executivos de negócios”.
No Brasil, assistimos à promulgação de importantes leis que buscam diminuir a desigualdade salarial, coibir a violência contra a mulher, incentivar a parentalidade e o ambiente inclusivo nas empresas, como a Lei de Igualdade Salarial, o Protocolo Não é Não e a Lei Emprega mais Mulheres. É chegado o mês de março, que marca a luta das mulheres em termos de igualdade social, por isso, é importante refletirmos sobre o papel das organizações para alavancar esta temática, não apenas assegurando o cumprimento das leis, mas também com a promoção de mudanças estruturais alinhadas ao Capitalismo Consciente que acreditamos.
Os dados do PNUD sinalizam que a questão de gênero é algo arraigado culturalmente, o que torna a tarefa bem mais difícil, pois, transformar a cultura leva tempo e demanda um esforço conjunto entre sociedade civil, poder público e setor privado. Da parte do Poder Legislativo brasileiro o que se pode perceber, ao fazermos uma leitura transversal das três leis sancionadas recentemente, é que a necessidade de se investir em educação e letramento para a mudança cultural está prevista em todos os textos. A Lei Emprega mais Mulheres prevê treinamento sobre assédio para a totalidade das pessoas colaboradoras dentro de uma periodicidade anual; o Protocolo Não é Não exige de todos os estabelecimentos que vendem bebidas alcoólicas que tenham pelo menos uma pessoa capacitada para prestar o devido acolhimento em casos de violência; a Lei de Igualdade Salarial busca ir à raiz do problema para compreender e superar as causas da desigualdade salarial entre homens e mulheres.
Na mesma direção, o Capitalismo Consciente tem como um de seus pilares a cultura, ou seja, a convicção de que qualquer movimento de mudança social passa pela transformação dos valores e das crenças das pessoas é consenso nas esferas pública e privada. Sabemos que somente as leis impostas pelo poder público não são suficientes para que a transformação de fato aconteça, tão pouco ações isoladas por parte das empresas para fazer valer as leis não resolvem o problema. É necessário que se tenha um propósito maior para que o movimento seja no sentido de criarmos uma sociedade melhor e mais justa para todas as pessoas.
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Quando se fere os direitos das mulheres, fere-se a sociedade como um todo. Uma pesquisa realizada pelo Banco Econômico Mundial, divulgada em julho de 2023, mostrou que países com maior paridade de gênero também são os que possuem maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Ou seja, encontrar caminhos possíveis para a equidade de gênero é contribuir com o bem-estar social como um todo.
Apoio à parentalidade, com licenças maternidade e paternidade estendidas, subsídio de creche para os filhos, salas de amamentação, horários flexíveis e programas de reintegração pós licença-maternidade, são alguns caminhos possíveis para as empresas que desejam não só cumprir as leis, mas oferecer estruturas que ajudem a reduzir a desigualdade oriundas das dinâmicas sociais relacionadas ao cuidado, enfrentadas especialmente pelas mulheres.
Para além disso, é sempre importante lembrar que o ingresso das mulheres no mercado de trabalho e outras conquistas femininas, como o direito ao voto, ainda são muito recentes, por isso, programas de capacitação e desenvolvimento de lideranças femininas, assim como o combate a todas as formas de violência e discriminação no ambiente de trabalho, seguem sendo fundamentais para revertermos o cenário atual.
De acordo com o Fórum Econômico Mundial (dados de junho de 2023), “a paridade de gênero só deve ser atingida daqui 130 anos, em 2154”. É dever de todos nós ter pressa para reverter esse cenário.
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