A ordem artificial como garantia da relevância feminina

Simone de Beauvoir perguntava: por que se dar ao trabalho de fazer alguma coisa, em vez de não fazer nada? Parafraseando Simone, qual é então a medida de uma mulher? Que metas poderia ela propor a si mesma? Que esperanças lhe são permitidas?
Propor-se a fazer algo, conhecer a própria medida e definir metas a serem perseguidas, ações essenciais para a relevância feminina, esbarram em barreiras tradicionais, que não permitem que o reconhecimento de ambos os gêneros seja equitativo.
Exemplo de perseverança e resiliência, Bertha Lutz, diplomata brasileira, conseguiu responder aquelas questões. Mesmo com uma forte oposição britânica e americana, Bertha liderou e lutou pela inclusão expressa da igualdade de gênero na Carta da ONU, de 1945. E o que realmente mudou a partir dessa vitória?
O relatório Women in the Boardroom (Mulheres na Diretoria), publicado pela Deloitte, nos mostra a atual situação das mulheres em cargos de comando no mundo: apenas 6% dos CEOs são mulheres; 23,3% das cadeiras em conselhos são por elas ocupadas; 8,4% dos conselhos são por elas presididos. Neste ritmo lento: a) essas disparidades provavelmente não serão superadas antes de 2038; b) a igualdade de gênero entre presidentes de conselhos e CEOs só será alcançada em 2073 e 2111, respectivamente.
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Portanto, adequada a aprovação pelo Senado brasileiro do texto que reservou 30% das vagas de titulares para mulheres nos conselhos de administração de estatais, incluindo vagas para mulheres negras ou com deficiência (PL 1246/2021). Por meio das quotas, distorções são corrigidas “artificialmente” pelo Estado (Hayek). Em se deixando para o indivíduo ou para a sociedade, “espontaneamente”, a previsão de igualdade ocorrerá entre 50 e 90 anos. Quantas gerações de mulheres admitiremos perder em nome de uma transição orgânica?
Antes, buscava-se, apenas, atender uma igualdade de gênero; hoje, a equiparação busca um efetivo valor para a organização, voltado, não, apenas para uma percepção social, mas, mercadológica: 1) por aprimorar a reputação, a imagem e marca; 2) por aprimorar a própria gestão, como consequência do equilíbrio trazido pela visão feminina: pelas habilidades, em regra, inerentes às líderes mulheres, tais como, segurança psicológica, escuta ativa, versatilidade, criatividade, colaboração e muito cuidado; pela introdução da diversidade de pensamento; pelo desenvolvimento de ambientes acolhedores e que busquem o bem-estar etc. Portanto, quer-se o modelo feminino em essência e tudo do que dele decorre, afastando as mulheres das cópias, por óbvio, sempre imperfeitas de modelos masculinos, que, ainda, lhes são impostas.
Este é um desafio para todos, especialmente, para aqueles pais que querem um futuro mais justo e equânime para as suas filhas. Ou será que esses pais não perceberam, ainda, que essa luta é, também, um presente e um legado que estão deixando para elas?!
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