Sobreviver ou prosperar? Como aumentar a longevidade das empresas


Existem hoje 21,1 milhões de empresas ativas no Brasil e 2,3 milhões em Minas Gerais. No entanto, “a cada minuto, quatro empresas fecharam em 2023, segundo o Mapa de Empresas do governo federal”, noticiou reportagem recente. Foram 2,2 milhões de negócios extintos no País, um aumento de 26% em relação a 2022. É como se quase todas as empresas de Minas tivessem fechado as portas. Segundo o IBGE, apenas 25% das empresas conseguem sobreviver por mais de cinco anos, sendo as micro e pequenas empresas as mais afetadas. Diante desse cenário, uma inquietação: como as empresas podem aumentar suas chances de sobrevivência?
A elevada carga tributária é apontada como o principal vilão pelos empresários. Sendo um fator extrínseco, onde há pouca capacidade de influência, as atenções devem se voltar para o que agora surge como a segunda causa da elevada taxa de mortalidade: a ineficiência na gestão. Estabelecer sistemas de gestão eficientes sempre foi um desafio. Na década de 90, um dos livros mais comentados era o “Feitas para Durar”, com práticas de empresas bem-sucedidas. Embora trouxesse uma abordagem sobre o longo prazo, o foco excessivo em resultados financeiros, sem considerar os impactos gerados pela organização, resultou em um desempenho insatisfatório para muitas daquelas empresas, passados 30 anos. O que antes funcionava, hoje não funciona mais.
O mundo dos negócios está em constante evolução. Composto por teias de estruturas e pessoas, está também cada vez mais complexo. Enquanto as pequenas empresas têm muito o que fazer e contam com poucas pessoas, as grandes têm muita gente, mas nem sempre o engajamento necessário para fazer a roda girar melhor. Adicionalmente, as preocupações não se restringem ao ambiente interno da empresa, mas estendem-se às diversas partes interessadas, os stakeholders, grupo no qual está também o meio ambiente. No entanto, o que aparentemente pode parecer mais um complicador, na verdade é uma grande oportunidade. Empresa e stakeholders, juntos, trabalhando em rede, com propósito, valores e objetivos comuns, são capazes de cooperar para aumentar a longevidade dos negócios.
John Mackey, cofundador da WholeFoods Market e do movimento do Capitalismo Consciente, conta no livro “Capitalismo Consciente. Como liberar o espírito heroico das empresas” que, no início da sua vida como empreendedor, enfrentou uma enchente terrível em seu pequeno supermercado de comida saudável no Texas. Quando tudo parecia perdido, algo inesperado aconteceu. Funcionários e clientes, de forma voluntária, apareceram para ajudá-lo na limpeza e reconstrução da loja. “Por que você está fazendo isso?”, John perguntou a um cliente. “Não tenho certeza se gostaria de morar em Austin se a loja não estivesse aqui. Ela fez uma grande diferença na minha vida”, respondeu. A loja reabriu um mês depois. Sem o apoio da comunidade local, a potência que hoje fatura bilhões de dólares teria fechado as portas naquele dia.
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Quando o negócio tem o propósito de servir a sociedade e/ou o planeta, e uma liderança que o leve adiante, o relacionamento com as partes interessadas e a cultura organizacional se fortalecem e tornam-se uma base de sustentação, sobretudo em tempos de crise (situação tão comum para nós, brasileiros). Isso é o que propõe o Capitalismo Consciente através de seus quatro pilares: propósito maior, liderança consciente, cultura consciente e orientação para stakeholders.
Empresas que adotam esses fundamentos se destacam por sua capacidade de construir relacionamentos saudáveis, aumentando não só suas chances de sobrevivência, mas de prosperidade no longo prazo.
Estão mais aptas a conquistar a lealdade dos consumidores, melhorar a reputação, atrair e reter talentos, fomentar a colaboração e impulsionar a inovação, entre outros pontos. Têm ainda melhores condições de se posicionar frente ao aumento da pressão do mercado por práticas ambientais, sociais e de governança (ESG). Não apenas se alinham mais naturalmente com os princípios ESG, mas são capazes de transcendê-los. Podem não só mitigar riscos por meio da gestão social e ambiental e da governança estruturada, mas podem também impactar positivamente o mundo. Como fazer o bem gera mais valor para todos, a sustentabilidade acaba se tornando uma estratégia inteligente para aumentar a longevidade das empresas.
Para mudar o cenário de fechamento de empresas no Brasil, é fundamental que os empresários reconheçam a importância de uma abordagem mais humanizada, capaz de contribuir para a antifragilidade dos negócios. De fato, os desafios de sobrevivência no curto prazo são muitos, especialmente diante do nosso contexto macroeconômico. Mas sem bases sólidas para o longo prazo, a fatalidade do fechamento nos primeiros anos de vida tende a se concretizar.
Hoje não basta, portanto, ter uma gestão interna eficiente. É preciso que ela seja também consciente, do impacto que gera no entorno e de sua responsabilidade para com o sistema no qual está inserida. Para enfrentar os inúmeros riscos que ameaçam os negócios, inclusive globais, as organizações precisam agir localmente em conjunto com seus stakeholders. Dessa forma, podem não apenas aumentar sua probabilidade de sobrevivência, mas de gerar mais prosperidade para todos, inclusive para o próprio negócio.
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