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Outubro Rosa: estamos esgotadas, mas precisamos nos cuidar. Esta conta não fecha

De acordo com o relatório "Esgotadas", da Think Olga, 55% das mulheres vive com ansiedade e outras 49% com estresse. Leia a coluna

Estamos exaustas, mas as logomarcas das empresas, alteradas para o rosa, nos lembram o tempo todo que estamos no mês da consciência contra o câncer de mama e do colo do útero.

Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer, o câncer de mama é o segundo tipo mais frequente em mulheres. No Brasil, foram estimados 73,6 mil novos casos em 2024, o que corresponde a 66,54 casos a cada 100 mil mulheres.

E o câncer do colo do útero é o terceiro tumor mais incidente na população feminina, com 17 mil novos casos por ano no triênio 2023-2025, correspondendo a uma taxa de incidência de 15,38 casos a cada 100 mil mulheres.

A estratégia de sensibilização que predomina em todas as instituições que fazem campanha durante este mês visa incentivar o protagonismo feminino e o autocuidado isso porque, segundo o Ministério da Saúde, cerca de 17% dos casos podem ser evitados por meio de hábitos de vida saudáveis e da prevenção. O próprio Ministério oferece prevenção, diagnóstico e tratamento via SUS, o que é louvável.

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Porém, o discurso do autocuidado é perigoso, uma vez que coloca toda a responsabilidade da prevenção na conta das mulheres e se esquece das condições de sobrecarga física e emocional em que a maioria das brasileiras vive hoje. É preciso que incorporemos a lente de gênero e de raça para olhar a situação de vida das mulheres no Brasil e, consequentemente, a sua saúde mental e física.

Mulheres estão esgotadas e sobrecarregadas

De acordo com o relatório “Esgotadas“, da Think Olga, 55% das mulheres vive com ansiedade e outras 49% com estresse. Isso se dá devido à sobrecarga: mulheres são as maiores responsáveis pela economia do cuidado, trabalham em média 10 horas a mais que os homens por semana; estão empobrecidas e endividadas, o que as faz, muitas vezes, abandonar o trabalho, porque não têm dinheiro para deixar os filhos em creches; além de sofrerem discriminação e serem vítimas de todo a sorte de violências domésticas.

mulher com sinais de cansaço
Foto: Adobe Stock

Segundo o “Women in the Workplace“, da consultoria McKinsey, em 2023, as microagressões diárias foram um dos principais fatores para as mulheres não exercerem o seu potencial total e também abandonarem seus empregos. Microagressões estas que acontecem de forma velada, se expressam na forma de piadas, micromachismos, falta de acesso e/ou oportunidades desiguais, sobrecarga mental e física devido às triplas jornadas de trabalho.

Frente a esse cenário, como falar em autocuidado, prevenção, boa alimentação, atividade física com quem não sabe como irá alimentar as crianças no próximo mês? Como exigir frequência em exames de prevenção se elas não têm com quem deixar os filhos e nem dinheiro para o transporte para irem realizar os exames? Com certeza esta não é uma questão que deve ser colocada apenas na responsabilidade das mulheres.

É preciso que olhemos para as estruturas e encaremos o problema de frente. Não estou dizendo com isso que as campanhas de prevenção não sejam importantes e necessárias, mas somente elas não bastam.

Neste Outubro Rosa, e em todos os outros dias do ano, te convido a pensar: como você (ou sua empresa) pode melhorar a vida das mulheres com quem convive? Que parte da rotina da mulher eu posso tomar para mim? Eu estou ajudando em casa ou dividindo? As responsabilidades do cuidado são de quem?

Pode parecer pouco, mas te garanto que, se todos fizermos a nossa parte, será o primeiro passo de uma mudança que precisa ser estrutural.

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