Chiccas - Estratégias para Equidade

A cor do feminicídio no Brasil

Entre o agosto lilás e o setembro amarelo, o cinza tem simbolizado a rotina de medo de muitas mulheres
A cor do feminicídio no Brasil
Foto: Adobe Stock

Para escrever esta coluna, usei uma estratégia diferente: em meio à correria dos últimos dias, percebi que estava desatualizada sobre os debates mais recentes em torno da equidade de gênero. Resolvi, então, lançar uma única palavra no buscador: mulheres.

O resultado me sacudiu. Era como abrir um arquivo policial: manchetes de feminicídios, relatos de agressões, estatísticas de violência e histórias atravessadas pelo medo. A palavra que – nas minhas expectativas – deveria remeter a potência e futuro veio carregada de luto. A experiência apenas confirmou o óbvio: ser mulher no Brasil ainda significa ser um alvo constante, viver sob o risco permanente da violência e, não raro, da morte.

De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024, quase 1.500 feminicídios foram registrados no país. Isso dá uma média de quatro mulheres assassinadas por dia. Quase 80% morreram pelas mãos de companheiros ou ex- companheiros, dentro de casa, no espaço que deveria ser sinônimo de segurança. E a cor da pele também conta: 64% eram mulheres negras, o que escancara como racismo e sexismo se entrelaçam na forma mais cruel. Em 2025, os números continuam a subir, alcançando marcas históricas e ainda assim parecem não causar a indignação pública que deveriam.

Vivemos, neste momento, entre duas campanhas: o Agosto Lilás, dedicado à conscientização pelo fim da violência contra a mulher, e o Setembro Amarelo, focado na prevenção do suicídio e na promoção da saúde mental. Ambas, é claro, são pautas essenciais, mas há algo de perverso em oferecer aplicativos de respiração ou mensagens motivacionais a quem vive em estado de alerta permanente.

Para além de campanhas coloridas, as empresas têm um papel crucial, e por isso devem assumir responsabilidades o ano inteiro. Ao longo dos últimos anos, o ambiente corporativo tem se mostrado um campo fértil para mudanças sociais.

Protocolos de acolhimento a mulheres em situação de violência, canais de denúncia seguros e treinamentos de letramento em gênero são exemplos de medidas que não apenas salvam vidas, mas também transformam culturas.

Proteger mulheres não é apenas uma questão de direitos humanos, mas também de inteligência estratégica. Um estudo da McKinsey (2024) mostrou que empresas com programas de diversidade de gênero bem estruturados não apenas reduzem a rotatividade de funcionárias, mas também ampliam a produtividade e a inovação.

No fim do arco-íris, entre o lilás de agosto e o amarelo de setembro, o cinza da rotina de medo enfrentada por muitas mulheres brasileiras se apresenta, e pede constância.

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