O que o conceito de ‘igualdade’ esconde e como avançar com ele nas empresas

No último 26 de agosto comemorou-se o Dia da Internacional da Igualdade Feminina. A data foi escolhida em homenagem à emenda que possibilitou o voto das mulheres americanas no ano de 1920. No Brasil, o direito ao voto feminino foi obtido mais de 20 anos depois e o direito para exercer uma profissão apenas em 1962.

Muito embora esses sejam marcos importantes e que precisem ser celebrados, o que a evolução da história tem nos mostrado é que:

a) a implementação de leis a favor das mulheres não é garantia suficiente para mudanças de ordem cultural e social e

b) quando se fala em “igualdade” de acesso para as mulheres, ainda temos uma situação enviesada e marcada majoritariamente por mulheres brancas e de classe média.

---

É o que comprova a recente pesquisa realizada com grandes organizações pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade (CEERT) e o Pacto Global da ONU: perguntadas sobre quantas mulheres estão presentes na alta liderança, cargos executivos C-level, 63% responderam ter mulheres brancas em posições executivas, enquanto 30,5% responderam ter mulheres negras.

Já no conselho de administração, 51,6% das empresas afirmaram ter mulheres brancas nessas posições, enquanto 8,6% afirmaram ter mulheres negras. Com relação a programas específicos de encarreiramento de mulheres, 33,6% das empresas afirmam ter programas para mulheres brancas e 10,9%, programas específicos para mulheres negras.

Este não é um panorama novo e não se limita aos achados dessa pesquisa. O gap de oportunidade de acesso entre mulheres brancas e negras é algo que vem sendo reivindicado pelas feministas negras desde os anos 1970 e ganhou visibilidade com o conceito de “interseccionalidade” proposto por Kimberlé Crenshaw.

Para além dos atravessamentos de raça e gênero, ao ampliarmos a análise para outros marcadores identitários, como deficiência, orientação sexual e corpos dissidentes, veremos que a discriminação e a subnotificação são ainda maiores.

Mas o que se esconde por trás do conceito de igualdade e que problemas ele carrega consigo?

Segundo o dicionário Houaiss, igualdade é “princípio segundo o qual todos os homens são submetidos a leis e gozam dos mesmos direitos e obrigações”; mas também é “fato de não se apresentar diferença de qualidade ou de valor, ou de, numa comparação, mostrar-se as mesmas proporções, dimensões, naturezas, aparências, intensidades, uniformidade, paridade, estabilidade (de oportunidades)” – e é aí que reside a contradição. Pois parte-se de um suposto conceito de igualdade de todas as pessoas perante a lei e esquece-se que na realidade não somos todos iguais, não partimos dos mesmos lugares e nem temos os mesmos acessos sociais.

Sendo assim, o que precisamos buscar nas empresas hoje é a equidade, entendendo que, uma vez que somos pessoas diversas e que partem de lugares diferentes, temos necessidades, demandas e oportunidades diferentes.

Mas como começar? Deixo aqui algumas dicas importantes:

1) Mulheres são muitas. Não existe uma categoria única de mulher e nem um padrão universal de referência.

2) Contrate uma mulher pela sua competência e não pela sua cor de pele ou aparência.

3) Pratique a sororidade. Se a sua colega está passando por alguma dor ou problema, acolha-a.

4) Homens e mulheres são diferentes e isso é ótimo. As nossas diferenças, se bem trabalhadas, transformam-se em potências.

5) As mulheres precisam se unir. Não é porque você já sofreu microagressão no passado que você deve repetir esse comportamento com a sua colega quando se tornar uma líder.

6) Nunca interrompa uma mulher, não pergunte se ela está de TPM, não tente explicar o óbvio para ela.

7) Não julgue as mulheres que ocupam altos cargos e se dedicam a grandes desafios de carreiras.

8) Não insinue que uma mulher conseguiu uma promoção porque está tendo um relacionamento com o seu chefe.

9) Não ache que porque foi fácil para você se empoderar será fácil para todas.

10) Lembre-se: se posicionar não é simples para todo mundo.