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Entre reborns e humanos: uma conversa sobre cuidado

Enquanto os bebês reborn estão no alvo das redes sociais, outro tema, profundamente ligado ao cuidado e bem mais urgente, avança quase em silêncio: a licença parental estendida
Entre reborns e humanos: uma conversa sobre cuidado
Foto: Reprodução Adobe Stock

Maio chega ao fim, e com ele mais um ciclo de homenagens às mães. E poucas metáforas são tão emblemáticas para encerrar este mês quanto a recente comoção nacional em torno dos bebês rebornbonecos hiper-realistas que, em questão de horas, viraram alvo de fake news e julgamentos apressados. Espalhou-se a ideia de que mães estariam trocando filhos reais por bonecos, alimentando mais uma onda de pânico moral nas redes sociais.

Enquanto isso, um outro tema, profundamente ligado ao cuidado e bem mais urgente, segue avançando quase em silêncio: o da licença parental estendida.

Atualmente, dois projetos de lei — o PL 3773/2023 e o PL 6216/2023 — aguardam tramitação no Senado e na Câmara dos Deputados. Ambos propõem uma mudança estrutural: 180 dias de licença para um dos responsáveis pela criança e 90 dias para o outro, permitindo que a divisão seja feita conforme a realidade de cada família.

É uma proposta que tira os pais da condição de figurantes no início da vida dos filhos. Hoje, eles têm direito a apenas cinco dias de licença — tempo insuficiente para qualquer vínculo real. A licença parental estendida não é um favor aos homens nem uma “ajuda” às mulheres. É uma política pública que reconhece o cuidado como responsabilidade compartilhada.

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Mais do que uma ação de bem-estar, essa medida é uma ferramenta concreta de equidade: alivia a sobrecarga materna, fortalece vínculos familiares e contribui para o desenvolvimento das crianças. E também beneficia o mundo do trabalho: aumenta o engajamento de colaboradores, reduz afastamentos por esgotamento e constrói ambientes mais saudáveis e produtivos.

Outros países já demonstraram que esse caminho é possível — e eficaz. Suécia e Noruega oferecem até 480 dias de licença compartilhada. Portugal garante 120 dias pagos, com possibilidade de extensão. Canadá e Alemanha adotam modelos flexíveis, permitindo que mães e pais se alternem no cuidado, com apoio do Estado.

Talvez, se aplicássemos ao debate sobre a sobrecarga materna a mesma intensidade que dedicamos aos escândalos inventados, como o dos reborns, já teríamos avançado mais. Se reconhecermos, de fato, que homens também cuidam, estaremos dando às mães — celebradas todos os anos em maio — algo muito mais valioso do que flores ou homenagens: a possibilidade real de não estarem sozinhas nessa missão.

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