O que fazer se a minha funcionária sofrer violência doméstica?
A violência contra a mulher não se restringe às quatro paredes do lar. Ela transborda, impactando carreiras, sonhos e o futuro de muitas mulheres.
O silêncio da violência doméstica reverbera nos corredores das empresas, onde muitas mulheres enfrentam o peso de uma dupla jornada: esconder os hematomas físicos e as dores emocionais para seguir em frente, como se nada tivesse acontecido.
A Pesquisa de Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, realizada pela Universidade Federal do Ceará em parceria com o Instituto Maria da Penha, escancara uma verdade cruel: as marcas das agressões não se apagam ao bater o ponto. Elas comprometem a produtividade, minam a autoconfiança e, frequentemente, destroem vidas profissionais.
Você já deve ter ouvido falar do Agosto Lilás, um mês para lembrar que a luta contra a violência não pode se limitar às campanhas temporárias. É preciso ação contínua, suporte às vítimas e uma mudança profunda na forma como enxergamos a violência doméstica. Não se trata apenas de salvar vidas, mas de preservar futuros e devolver a dignidade roubada por cada ato de violência.
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A violência pode estar mais perto do que se imagina
O cenário da violência doméstica no Brasil é alarmante, como revelado pela última Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher – DataSenado 2023, que aponta que 3 em cada 10 mulheres brasileiras já sofreram violência doméstica. Dentre elas, 76% sofreram violência física, índice que varia de acordo com a renda.
Mas é ilusão pensar que a violência doméstica está restrita apenas às mulheres mais pobres. Os números nos dizem que o problema é profundo e generalizado, e que o impacto tem prejudicado diferentes perfis de mulheres e consequentemente, diferentes carreiras.
O papel das empresas
Muitos empregadores não têm conhecimento sobre as responsabilidades, como as previstas na Lei 14.457, que obriga empresas a adotarem medidas de combate à violência contra a mulher, ou sobre as possibilidades de agir em situações de violência doméstica vivenciada pelas funcionárias. Este desconhecimento pode levar a intervenções indevidas, que podem inclusive colocar a vida da vítima em risco.
De maneira geral, o melhor é sempre atuar preventivamente, e a criação de ambientes de trabalho seguros e igualitários é um primeiro passo fundamental para as organizações que desejam assumir sua responsabilidade na erradicação desse mal.
Aqui também vão mais algumas dicas práticas para empresas combaterem a violência doméstica:
- Educação e conscientização: Ofereça treinamentos regulares sobre violência de gênero para todos os funcionários, ajudando a identificar sinais de assédio e disseminar a cultura do respeito.
- Suporte à vítima: Crie canais confidenciais para que vítimas possam buscar ajuda dentro da empresa, garantindo apoio psicológico e jurídico.
- Políticas internas: Estabeleça políticas claras contra a violência doméstica, incluindo folgas remuneradas para vítimas e medidas de segurança no ambiente de trabalho.
- Parcerias com ONGs: Colabore com organizações especializadas para oferecer recursos e suporte às vítimas e suas famílias.
- Tolerância zero: A violência doméstica é um crime, previsto por lei, mas para que a cultura seja de fato transformada, as empresas também precisam adotar uma postura de tolerância zero contra funcionários abusadores.
Que o Agosto Lilás nos lembre que o fim da violência contra a mulher é um compromisso de todos, para que, cada vez menos, organizações, equipes e famílias sejam impactadas e quem sabe, no futuro, nenhuma mulher tenha que escolher entre sua segurança e sua carreira.
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